São, no total, quinze alunos… Três têm Necessidades Educativas Especiais… A verdade é que trabalhar com os outros doze não é menos fácil… Têm quase todos tantas dificuldades de aprendizagem que dei comigo, várias vezes, a ter de consultar os meus apontamentos para confirmar os nomes dos meninos com NEE… É, sim, uma turma com alunos fraquinhos… Bem sei que fica mal dizer-se que há alunos “fraquinhos”, mas é verdade: são, em termos de aproveitamento, “fraquinhos”…
Quinze alunos com histórias que eu conheço e que eu desconheço.
Há a Joana, que vive numa instituição e não fala com os pais.
Há o Marco, que fugiu de casa com a mãe porque se fartavam de receber porrada.
Há a Patrícia, que vive com a avó de 80 anos.
Há a Sofia que trabalha ao fim-de-semana num restaurante e, quando pode, no final do dia, faz umas horas num café perto de casa.
Há o João da ilha. Mas ora dorme na ilha, em casa da mãe, ora por aqui, em casa do pai, ou ainda em casa da avó, quando esta não se sente muito bem.
Há o Paulo, que tem de cuidar da irmã, porque a mãe trabalha em três sítios e raramente está em casa.
E há o colega que está chocado. - Há sempre um ou dois colegas assim. - Está chocado muitas vezes. Desta vez, está chocado porque lhes deu um trabalho sobre tolerância e os miúdos inventaram histórias, em vez de pesquisar sobre o Gandhi ou o Luther King… Aliás, eles não sabem quem é o Gandhi ou o Luther King… E então, o colega nada tolerante que dá trabalhos sobre tolerância está escandalizado com a falta de cultura destes miúdos… Oh pá… Vão desculpar-me, mas eu não consigo deixar de achar que é muita falta de cultura ficar-se escandalizado com a falta de cultura dos outros…
Vidas difíceis... Costumo dizer que os alunos até são muito "normais" para os pais que têm...
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