Divulgado a pedido de uma professora de Inglês, também ela apanhada na teia do PET.
"De todos os artigos
que li, nenhum considerei abrangente (mea
culpa – talvez não tenha procurado o suficiente…). Assim sendo e porque a
temática me é cara, surgiu a indómita vontade de sobre ela opinar…
Para uma visão global
desta problemática, há que explanar três vertentes que embora se correlacionem,
cada uma per se constituiria
argumento de peso para contestar a arbitrariedade com que tal “fardo” foi e
está a ser imposto:
1.
O
envolvimento dos professores de Inglês;
2.
O
público-alvo (alunos de 9º Ano);
3.
A
instituição Escola.
1. No que respeita aos professores de
Inglês.
·
Os
docentes são obrigados a realizar formação;
·
Não
bastando o supra mencionado, têm que se submeter a uma avaliação por parte da instituição
Cambridge, o que em si constitui um descrédito face às habilitações académicas
e profissionais reconhecidas pelo estado Português;
·
Se
não somos idóneos, qual a razão de nos afectarem a tal tarefa?
·
Porque
não mobilizarem os seus próprios formadores?
·
Ao
invés, se é necessária uma certificação, qual a razão de não ser aberta a todos
os voluntários (com tantos desempregados) que para tal se dispusessem,
independentemente das suas qualificações/habilitações se as nossas, pelos
vistos, de nada servem?
·
O
Estado está a disponibilizar mão-de-obra a uma entidade privada (não nacional),
o que implica horas extra e não remuneradas para os visados. Em todos os outros
países, este trabalho é pago e exercido em regime de voluntariado.
·
Quer
para a formação, quer para as posteriores tarefas, os professores envolvidos têm
que faltar nas suas escolas, mas suas turmas, aos seus alunos. De acordo com as
normas vigentes, cada docente pode ser escalonado para realizar de quatro a
seis momentos de avaliação oral, tendo cada uma deles a duração de uma manhã ou
tarde.
·
Os
supra citados momentos de avaliação oral implicam sempre a deslocação dos
avaliadores a estabelecimentos de ensino onde não leccionam, apenas tendo
direito a ajudas de custo se o trajecto (só ida) for superior a 20 Kms. Não só
farão horas extra e não remuneradas, como serão onerados com despesas
acrescidas de deslocação.
·
Os
avaliadores da componente escrita, para tal incumbência, terão que aceder a uma
plataforma online. Estamos, mais uma
vez, a falar de horas extra de trabalho de casa, com o consequente decréscimo
de tempo para dedicar às tarefas oficiais e já tão lesada vida privada.
2. Público-alvo (alunos de 9º Ano).
·
Para
além dos exames obrigatórios de Português e Matemática a que os alunos de 9º ano
terão que se submeter, é mais uma prova, que em nada conta para a sua
classificação oficial final;
·
Apesar
da obrigatoriedade, só terão direito ao respectivo certificado mediante o
pagamento de 25€;
·
Ver-se-ão
privados de dois turnos de aulas (algumas das quais só têm uma vez por semana)
para a realização das várias componentes da prova (escrita e oral).
·
Os
testes têm uma orgânica completamente diferente da que estão habituados e podem
eventualmente implicar o cancelamento de momentos de avaliação anteriormente
calendarizados, sendo por vezes impossível a sua remarcação sem se sobrepor a
outras avaliações, o que é altamente indesejável;
·
À
volta desta questão, alguém (entenda-se editoras), está desde já a tentar
potenciar o seu negócio, com a publicação de manuais destinados à preparação
dos alunos para este tipo de exames, que os próprios professores de inglês
desconhecem, dado o seu secretismo e uma vez que deles não podem ser
vigilantes. Pergunto-me: se são assim tão secretos, sendo proibida a sua
divulgação, como é que as editoras a eles têm acesso? Se tal não é indício de
jogadas mercantilistas… negociatas… cada um que tire as suas conclusões…
·
Fará
algum sentido os professores prepararem os seus alunos para este tipo de exames
em detrimento do programa oficial que têm para cumprir?
·
É
uma certificação extemporânea, dado que no seu percurso escolar a frequência da
disciplina de inglês é obrigatória no mínimo até ao décimo-primeiro ano, altura
em que a proficiência dos alunos será superior ao nível que nesta fase se venha
a certificar.
3. A instituição Escola no
seu todo também não fica incólume
face a este processo:
·
Não
haverá aulas aquando da realização da prova oral, pois à semelhança de um exame
nacional, mão pode haver mais de quinze alunos por sala, sendo cada uma delas
vigiada por dois professores, fora os suplentes, que têm que ser convocados e
estar de prevenção;
·
O
supra citado lesa os restantes alunos de outros anos, muitos deles sujeitos a
exames nacionais e com testes marcados para esse dia, implicando igualmente a
intervenção de outros professores de outras disciplinas, muitos deles a
trabalhar horas extra, não pagas;
·
Para
além dos professores vigilantes, há também que constituir um secretariado de
exames, com regras ainda mais restritivas que as vigentes;
·
A
Escola é responsável pela produção de pautas em duplicado, quer para a prova
escrita, quer para a oral, (na escola onde leciono, isto significa a impressão
de 1156 pautas) sendo-lhe totalmente imputado o custo de consumíveis.
Em termos de custos,
é só fazer as contas aos milhares de professores envolvidos e respectivas horas
dedicadas a este projecto, para se apurar a verba com que o Governo presenteou esta
entidade privada (o Cambridge) e o lucro que vai ter, só pela mão-de-obra
gratuita e forçada que lhe é atribuída. A troco de quê? … cada um que tire as
suas conclusões.
Notas:
Após ter escrito
o presente texto, deixou de ser obrigatória a certificação dos professores de
Inglês. No entanto, tal constituiria uma obrigação, não tivesse a tutela entretanto
corrigido a sua posição face às evidências do enorme erro que cometeria, sob
pena de ser parte activa no descrédito do ensino oficial em Portugal."
O presente artigo não observa intencionalmente
as regras do novo acordo ortográfico.