domingo, 7 de maio de 2017

E porque hoje é Dia da Mãe...

Tem, no corredor, um dálmata de faiança, ou qualquer coisa do estilo, não sei bem, que eu de cerâmica nunca percebi nada. Sei que se parte e pronto. Está lá há décadas… sem se partir, ora aí está! Já o escondi num armário, mas na hora seguinte, estava no seu lugar serenamente. Já me lembrei também de o atirar pelas escadas abaixo, mesmo ali ao lado, mas nunca tive coragem: é que o bicho já tem vida e alma. Já gosto dele. Se ela gosta... 
Tem também a mania de nos seguir pela casa quando tem algo para nos dizer. Mesmo que estejamos com pressa, mesmo que digamos que «agora, não dá, tenho que me despachar», segue-nos e fala, fala sem parar. Entra no quarto e fala, fala enquanto mudamos de roupa. Segue-nos até à casa de banho e fala, fala encostada à porta. O barulho do autoclismo não a faz parar, mas sim levantar o tom de voz. E, se por ventura, nos apanha desatentos, lá vem o «És como o teu pai! Não ouves nada do que eu digo!». 
«Eu já sabia!» é a frase que ela mais usa, e, de facto, sabe muitas vezes muito antes de nós o resultado de determinadas atitudes nossas… Implacável com os nossos erros e de uma complacência enorme para com os dos outros… Gosto que assim seja… O esquema ao contrário torna muita gente mimada e intolerante. 
É de poucos risos, mas, quando estes acontecem, são tão intensos que, dos olhos pequeninos, só conseguimos ver o traço… E é nesses momentos que eu lhe vejo mais a alma… 
Em adolescente, num daqueles rasgos de afirmação pessoal, comecei a chamá-la de «Mãe»… Ouviu-me umas quantas vezes até que, uma noite, antes de ir dormir, me pediu (ela que nunca pede nada): «Não deixes de me chamar «Mamã»… » A minha promessa foi feita em silêncio… E nunca mais falhei…

1 comentário:

  1. Adorei. Afinal não são só os homens que são farinha do mesmo saco, as mães também.
    Eu não foi por um pedido, mas ainda hoje frequentemente uso os termos, mamã e papá.

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