Tem, no corredor, um dálmata de faiança, ou qualquer coisa do estilo, não sei bem, que eu de cerâmica nunca percebi nada. Sei que se parte e pronto. Está lá há décadas… sem se partir, ora aí está! Já o escondi num armário, mas na hora seguinte, estava no seu lugar serenamente. Já me lembrei também de o atirar pelas escadas abaixo, mesmo ali ao lado, mas nunca tive coragem: é que o bicho já tem vida e alma. Já gosto dele. Se ela gosta...
Tem também a mania de nos seguir pela casa quando tem algo para nos dizer. Mesmo que estejamos com pressa, mesmo que digamos que «agora, não dá, tenho que me despachar», segue-nos e fala, fala sem parar. Entra no quarto e fala, fala enquanto mudamos de roupa. Segue-nos até à casa de banho e fala, fala encostada à porta. O barulho do autoclismo não a faz parar, mas sim levantar o tom de voz. E, se por ventura, nos apanha desatentos, lá vem o «És como o teu pai! Não ouves nada do que eu digo!».
«Eu já sabia!» é a frase que ela mais usa, e, de facto, sabe muitas vezes muito antes de nós o resultado de determinadas atitudes nossas… Implacável com os nossos erros e de uma complacência enorme para com os dos outros… Gosto que assim seja… O esquema ao contrário torna muita gente mimada e intolerante.
É de poucos risos, mas, quando estes acontecem, são tão intensos que, dos olhos pequeninos, só conseguimos ver o traço… E é nesses momentos que eu lhe vejo mais a alma…
Em adolescente, num daqueles rasgos de afirmação pessoal, comecei a chamá-la de «Mãe»… Ouviu-me umas quantas vezes até que, uma noite, antes de ir dormir, me pediu (ela que nunca pede nada): «Não deixes de me chamar «Mamã»… » A minha promessa foi feita em silêncio… E nunca mais falhei…
Adorei. Afinal não são só os homens que são farinha do mesmo saco, as mães também.
ResponderEliminarEu não foi por um pedido, mas ainda hoje frequentemente uso os termos, mamã e papá.