Não tenho por hábito, publicar sobre a forma de um post, os comentários que aqui são feitos, no entanto, acho que este merece alguma reflexão. Assim, coloco-o de seguida, na íntegra:
"Deslocam-se em bandos pela sala de professores de papéis na mão. Conspiram em grupo. Falam alto. Lançam tiradas categóricas, vulgo bocas. Gritam ainda mais alto se percebem que estão a ser ouvidos por alguém “deles”. Pela manhã inundam as mesas com fotocópias e caricaturas. A ministra, as novas leis e o Magalhães são o tema. O humor varia entre o riso alarve e o semblante zangado.
- Por vezes aparece um abaixo-assinado. Quem vai entrando é arrebanhado para assinar. Olham os outros de lado. Não os percebem e pensam deles o pior possível. Devem ter interesses, ou são carreiristas. Devem querer poder. Entre eles chamam-lhes adesivos ou infiltrados. Mal lhes falam.
-Quando se percebem de uma opinião diferente, recorrem aos chavões, deixam de ouvir, gritam, gesticulam e viram costas, literalmente. Outros, mais discretos, mudam de conversa ou de tom quando aparece um “dos outros”. Tentam transformar reuniões técnicas em plenários sindicais, barafustam a tudo o que se lhes pede. Procuram impor as suas visões pedagógicas. Maldizem o país e a sorte. Não percebem as mudanças nem se procuram informar. Desinformam os alunos.
Odeiam os que aceitam a mudança como natural; os que acham que se pode melhorar procedimentos e que educar é muito mais do que transmitir conhecimentos; Não percebem que alguém pense dever haver recompensa ao mérito quando o trabalho não é igual; Não gostam da novidade e ficam mal dispostos quando alguém faz qualquer coisa com sucesso, se eles já pensaram o pior disso.
Ficam em silêncio de gritos quando ouvem algum outro colega dizer que quer ser avaliado, também, pelos pais e encarregados de educação. E só acreditam ser capazes de melhorar resultados se viciarem a avaliação dos alunos.
Tremem só de pensar que alguém lhe vai assistir a uma aula, que pode e deve haver reparos e que outros podem ter melhor nota. É a auto-estima em causa, sob o nome de dignidade.
Vivem isto como uma fé militante. As manifestações são actos de devoção e sempre recordam o PREC ou tentam viver o PREC possível. A irracionalidade domina-os. A ladainha molda-lhes a existência e o negativismo consome-os. Não querem esta avaliação. Querem fazer o velho relatoriozito para o Satisfaz. Sempre foi assim.
Por isso estou farto desta gente. Repito, farto. Já verifiquei que não sou o único a pensar desta forma."
Na realidade, este colega não é o único a pensar assim. Tal como o colega que escreveu o comentário, também eu estou farto de ouvir falar em radicalismos e em adesões avulsas a iniciativas, acompanhadas de pressão interpares. No entanto, mesmo concordando, em parte, com aquilo que este colega escreveu, também existe o reverso da "medalha". Também há aqueles que dizem exactamente o contrário. As generalizações são erradas... E qualquer uma das perspectivas podem ser apontadas como "pressão". Mas vou entediar-vos um pouco com a minha linha de raciocínio, escrevendo um pouco sobre mim e a forma como encaro a "luta", e que surgiu como consequência do comentário do colega... Cá vai:
Reafirmo que quero ser avaliado, quero uma mudança em termos de avaliação do desempenho docente. Não tenho qualquer receio em ser avaliado. Em 10 anos de ensino, nunca me revi no anterior modelo de avaliação. Tenho opinião própria, baseada e fundamentada em conhecimento de causa e principalmente na legislação vigente. Não me deixo impressionar por pressões, e nunca fui "maltratado" por isso. Como adulto consciente, educado e bem formado, sei como me defender e resistir a "pressões". Aliás, expresso desde já aqui o meu repúdio às pressões feitas por pares (ainda há pouco tempo, coloquei aqui um post exactamente sobre este assunto). Já li e reli, diversas vezes o Decreto Regulamentar n.º2/2008 e não concordo com muitos dos elementos considerados. Não por não querer se avaliado... Não por estar a ser "pressionado"... Mas sim porque sei que não contribuem para que eu evolua de forma positiva, enquanto profissional do ensino.
Se defendo que este modelo de avaliação, não será o melhor, é porque conheço outro. Posso apresentá-lo se for necessário (não é que isso importe muito, pois como mero professor, não tenho qualquer poder negocial). Ou seja, não digo que quero outro modelo de avaliação do desempenho e não apresento alternativas. Apresento alternativas (algo que ainda não consegui verificar nos sindicatos) e aponto elementos subjectivos do nosso modelo de avaliação do desempenho, porque gostaria que os mesmos fossem alterados e porque quero efectivamente ser avaliado. Não critico por criticar... Aponto com a intenção de contribuir para algo, se possível para uma melhoria do actual modelo ou eventualmente para a definição de um novo. Posso apresentá-las se tal for requerido. E esse outro modelo de avaliação do desempenho, que acima referi, é o modelo de avaliação das escolas privadas de ensino. Um modelo construtivo e formativo que visa efectivamente corrigir as nossas falhas e que dá pouco espaço a vícios formais e/ou subjectividades. Para além disso, é um modelo com provas dadas. Poderia ser aproveitado (com algumas adaptações, se fosse necessário) para o ensino público. Para mim, esse modelo seria o mais adequado. Agora se nem esse (ou outro que seja melhor) os sindicatos querem (assim como alguns colegas), há que retirar ilações (e que poderão perfeitamente passar por "os professores não querem ser avaliados").
Quanto às negociações entre Ministério da Educação e Sindicatos: Até podiamos admitir este modelo "simplex". Concordo com algumas alterações e duvido da exequibilidade de muitas outras. No fundo, à excepção do elemento "Sucesso" e "Abandono Escolar", tudo o resto se mantém. Mas a questão não passa por aqui. A questão passa pelo carácter temporário do modelo "simplex". É apenas para este ano... Reconheço também, que por trás de tanta irredutibilidade dos sindicatos, existe um claro jogo político, no qual, alguns de nós estão a servir de "marionetas". E o pior, é que nem se apercebem disso e alguns até gostam, mostrando facetas que até agora desconhecia.
Mas tudo isto para "dizer" o quê? Para concluir que não é por algum de nós discordar deste modelo que alguém o pode classificar como "marioneta"... como acéfalo... como influenciável... como "comodista"... ou mesmo, como incompetente. Se discordamos, é porque temos motivos para tal. Se discordamos, não temos que obrigatoriamente não querer ser avaliados. Embora admita que alguns de nós, não queiram efectivamente ser avaliados, não admito que metam toda a gente, nesse "saco". Adiro a algumas iniciativas, e nem sequer me passa pela cabeça concordar com outras. Sou visto de "lado"? Sou alvo de "bocas foleiras" e olhares desconfiados? Por vezes... Mas não é por isso, que mudo uma vírgula na minha maneira de pensar. E é aqui que reside o reverso da "medalha": Se discordas deste modelo é porque não queres ser avaliado! Se concordas é porque queres ser avaliado segundo este modelo!
Qualquer uma das perspectivas é errada, e não me revejo em qualquer uma delas...
"Deslocam-se em bandos pela sala de professores de papéis na mão. Conspiram em grupo. Falam alto. Lançam tiradas categóricas, vulgo bocas. Gritam ainda mais alto se percebem que estão a ser ouvidos por alguém “deles”. Pela manhã inundam as mesas com fotocópias e caricaturas. A ministra, as novas leis e o Magalhães são o tema. O humor varia entre o riso alarve e o semblante zangado.
- Por vezes aparece um abaixo-assinado. Quem vai entrando é arrebanhado para assinar. Olham os outros de lado. Não os percebem e pensam deles o pior possível. Devem ter interesses, ou são carreiristas. Devem querer poder. Entre eles chamam-lhes adesivos ou infiltrados. Mal lhes falam.
-Quando se percebem de uma opinião diferente, recorrem aos chavões, deixam de ouvir, gritam, gesticulam e viram costas, literalmente. Outros, mais discretos, mudam de conversa ou de tom quando aparece um “dos outros”. Tentam transformar reuniões técnicas em plenários sindicais, barafustam a tudo o que se lhes pede. Procuram impor as suas visões pedagógicas. Maldizem o país e a sorte. Não percebem as mudanças nem se procuram informar. Desinformam os alunos.
Odeiam os que aceitam a mudança como natural; os que acham que se pode melhorar procedimentos e que educar é muito mais do que transmitir conhecimentos; Não percebem que alguém pense dever haver recompensa ao mérito quando o trabalho não é igual; Não gostam da novidade e ficam mal dispostos quando alguém faz qualquer coisa com sucesso, se eles já pensaram o pior disso.
Ficam em silêncio de gritos quando ouvem algum outro colega dizer que quer ser avaliado, também, pelos pais e encarregados de educação. E só acreditam ser capazes de melhorar resultados se viciarem a avaliação dos alunos.
Tremem só de pensar que alguém lhe vai assistir a uma aula, que pode e deve haver reparos e que outros podem ter melhor nota. É a auto-estima em causa, sob o nome de dignidade.
Vivem isto como uma fé militante. As manifestações são actos de devoção e sempre recordam o PREC ou tentam viver o PREC possível. A irracionalidade domina-os. A ladainha molda-lhes a existência e o negativismo consome-os. Não querem esta avaliação. Querem fazer o velho relatoriozito para o Satisfaz. Sempre foi assim.
Por isso estou farto desta gente. Repito, farto. Já verifiquei que não sou o único a pensar desta forma."
Na realidade, este colega não é o único a pensar assim. Tal como o colega que escreveu o comentário, também eu estou farto de ouvir falar em radicalismos e em adesões avulsas a iniciativas, acompanhadas de pressão interpares. No entanto, mesmo concordando, em parte, com aquilo que este colega escreveu, também existe o reverso da "medalha". Também há aqueles que dizem exactamente o contrário. As generalizações são erradas... E qualquer uma das perspectivas podem ser apontadas como "pressão". Mas vou entediar-vos um pouco com a minha linha de raciocínio, escrevendo um pouco sobre mim e a forma como encaro a "luta", e que surgiu como consequência do comentário do colega... Cá vai:
Reafirmo que quero ser avaliado, quero uma mudança em termos de avaliação do desempenho docente. Não tenho qualquer receio em ser avaliado. Em 10 anos de ensino, nunca me revi no anterior modelo de avaliação. Tenho opinião própria, baseada e fundamentada em conhecimento de causa e principalmente na legislação vigente. Não me deixo impressionar por pressões, e nunca fui "maltratado" por isso. Como adulto consciente, educado e bem formado, sei como me defender e resistir a "pressões". Aliás, expresso desde já aqui o meu repúdio às pressões feitas por pares (ainda há pouco tempo, coloquei aqui um post exactamente sobre este assunto). Já li e reli, diversas vezes o Decreto Regulamentar n.º2/2008 e não concordo com muitos dos elementos considerados. Não por não querer se avaliado... Não por estar a ser "pressionado"... Mas sim porque sei que não contribuem para que eu evolua de forma positiva, enquanto profissional do ensino.
Se defendo que este modelo de avaliação, não será o melhor, é porque conheço outro. Posso apresentá-lo se for necessário (não é que isso importe muito, pois como mero professor, não tenho qualquer poder negocial). Ou seja, não digo que quero outro modelo de avaliação do desempenho e não apresento alternativas. Apresento alternativas (algo que ainda não consegui verificar nos sindicatos) e aponto elementos subjectivos do nosso modelo de avaliação do desempenho, porque gostaria que os mesmos fossem alterados e porque quero efectivamente ser avaliado. Não critico por criticar... Aponto com a intenção de contribuir para algo, se possível para uma melhoria do actual modelo ou eventualmente para a definição de um novo. Posso apresentá-las se tal for requerido. E esse outro modelo de avaliação do desempenho, que acima referi, é o modelo de avaliação das escolas privadas de ensino. Um modelo construtivo e formativo que visa efectivamente corrigir as nossas falhas e que dá pouco espaço a vícios formais e/ou subjectividades. Para além disso, é um modelo com provas dadas. Poderia ser aproveitado (com algumas adaptações, se fosse necessário) para o ensino público. Para mim, esse modelo seria o mais adequado. Agora se nem esse (ou outro que seja melhor) os sindicatos querem (assim como alguns colegas), há que retirar ilações (e que poderão perfeitamente passar por "os professores não querem ser avaliados").
Quanto às negociações entre Ministério da Educação e Sindicatos: Até podiamos admitir este modelo "simplex". Concordo com algumas alterações e duvido da exequibilidade de muitas outras. No fundo, à excepção do elemento "Sucesso" e "Abandono Escolar", tudo o resto se mantém. Mas a questão não passa por aqui. A questão passa pelo carácter temporário do modelo "simplex". É apenas para este ano... Reconheço também, que por trás de tanta irredutibilidade dos sindicatos, existe um claro jogo político, no qual, alguns de nós estão a servir de "marionetas". E o pior, é que nem se apercebem disso e alguns até gostam, mostrando facetas que até agora desconhecia.
Mas tudo isto para "dizer" o quê? Para concluir que não é por algum de nós discordar deste modelo que alguém o pode classificar como "marioneta"... como acéfalo... como influenciável... como "comodista"... ou mesmo, como incompetente. Se discordamos, é porque temos motivos para tal. Se discordamos, não temos que obrigatoriamente não querer ser avaliados. Embora admita que alguns de nós, não queiram efectivamente ser avaliados, não admito que metam toda a gente, nesse "saco". Adiro a algumas iniciativas, e nem sequer me passa pela cabeça concordar com outras. Sou visto de "lado"? Sou alvo de "bocas foleiras" e olhares desconfiados? Por vezes... Mas não é por isso, que mudo uma vírgula na minha maneira de pensar. E é aqui que reside o reverso da "medalha": Se discordas deste modelo é porque não queres ser avaliado! Se concordas é porque queres ser avaliado segundo este modelo!
Qualquer uma das perspectivas é errada, e não me revejo em qualquer uma delas...
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