segunda-feira, 4 de julho de 2011

Preocupações a médio prazo...

A descentralização de competências do Ministério da Educação e o acréscimo de autonomia das escolas, apregoada pelo actual Governo deixa-me preocupado, pelos seguintes motivos:

1) O poder local (autarquias e direcções das escolas) é até certa medida permeável a influências (as denominadas "cunhas") que dificilmente poderão ser contrariadas sem uma relevante estrutura de poder central. Escrito de outra forma, e dando como exemplo o tema da colocação de docentes, o que poderá acontecer é que o critério da competência profissional poderá ser substituído pelo da competência "pessoal";

2) Se, porventura, ocorrer a diluição dos poderes do Ministério da Educação (ME) e das suas estruturas de poder intermédio (como por exemplo, as Direcções Regionais de Educação - DRE´s) teremos de considerar a forte possibilidade do acréscimo de prepotência local, cuja confrontação e discordância apenas terão resolução por via judicial (e todos sabemos o que isso significa). Bem sei que por vezes, as respostas do ME/DRE´s não agradam, demoram imenso tempo e por vezes até são contraditórias, mas sabermos que existe algo acima a que podemos recorrer dá-nos alguma segurança. Se não fosse a DREN, em duas situações diferentes, ainda estaria a tentar resolver por via judicial algo que se encontrava perfeitamente claro na legislação e que assim não era entendido pelas escolas;

3) O critério da redução orçamental não deveria servir como argumento para colocar ainda mais em risco o equilíbrio de poderes. É certo que, e no caso específico das DRE´s seria importante tornar mais eficiente e transparente a "máquina" (quem já teve de recorrer a estas estruturas, sabe do que falo), eventualmente reduzindo o número de funcionários públicos (muitos deles professores) que trabalham nas mesmas, reorientando competências, agilizando custos e até mesmo eliminando estruturas intermédias mais próximas das escolas (como por exemplo, as EAE). No entanto, será que colocando todas (ou quase todas) as competências ou decisões sob a alçada do director não se estará a contribuir para uma forte probabilidade de acréscimo de degradação da isenção e justiça no sistema educativo?

Admito que possa estar a ver o problema de um ponto de vista demasiado pessoal ou corporativista, mas é algo que me preocupa e que ainda não tive tempo para discutir com os meus colegas e amigos mais próximos. Assim, deixo aqui este post para saber qual a vossa opinião e se eventualmente poderei estar a ver o "panorama" de um ponto de vista menos correcto.

15 comentários:

  1. Se o director da escola for directamente responsabilizado e directamente remunerado pelos resultados da sua escola, talvez essa maior autonomia contribua para o sucesso dos alunos. Talvez...

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  2. Achas que estas repercussões a nível de concurso e selecção de docentes poderão aplicar-se já este ano lectivo?

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  3. Mas alguém poderá ter dúvidas que a descentralização das colocações docentes conduzirá ao aumento ou vulgarização das cunhas!!!!!!!!! Não podemos permitir que isto aconteça!!!
    O sistema actual é o mais adquado á realidade portuguesa, disso não tenho dúvidas.

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  4. Infelizmente a minha resposta a todas as suas dúvidas são "sim". E a cunha é a tão desmotivante para os restantes, sobretudo quando nos cercam de medíocres!!!

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  5. Não tem a ver com o post, mas aqui vai, a dren está a informar as secretarias do fim dos contratos dos profs contratados ainda esta semana, hoje estive na secretaria a preencher papelada, estive no executivo e ninguém falou em nada, há 5 minutos fui informada que 5f, dia 7, o meu contrato termina segundo ordem da dren...

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  6. Sim a tudo, Ricardo. Preocupações legítimas.
    jk

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  7. immortal,
    mas estava à espera disso ou isso é uma inversão do que era suposto acontecer ( 31 de Agosto)?
    Ou melhor, quando foi colocado, foi até 31 de Agosto?

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  8. nao q nao estivesse à espera, pq o meu contrato é de substituição e todas as semanas espero que me mandem p casa, não me mandaram por a colega ter regressado mas apenas porque receberam ordem de cima, o ano passado surgiu o mesmo problema e a escola segurou a nossa posição até 31/08. Do que não estava à espera era de me ser comunicado 3 dias antes...depois a frio é que me surgiram dúvidas daquilo sobre o que me disseram, mandaram-me remarcar as ferias, que estavam marcadas como os contratados fazem sempre, do 31 /08 para trás, agora, como vou gozar férias depois do contrato terminar? não entendo, e ainda me disseram q dia 8 podia requerer o subsidio....

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  9. "a escola segurou a nossa posição até 31/08."

    Mas no ano passado, já houve quem não tivesse sido segurado e, quero crer que foi a larga maioria.

    Este ano, todos nessas condições ( a substituir) vão para casa mais cedo.

    Sorry.
    jk

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  10. Para Sílvia: Não me parece que essa indexação seja boa ideia. Com o poder que os directores já detêm (e aparentemente ainda vão deter mais) será algo arriscado pois já sabemos que vai ser alvo de pressões na eventualidade dos resultados não serem os esperados.

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  11. Para Vanda Cachapa: A esta altura parece-me que a única influência viável será a nível dos horários disponibilizados após implementação da esperada reforma curricular e continuidade da formação dos giga-agrupamentos.

    Os cortes nos horários a concurso serão previsivelmente elevados... O quanto é que ninguém sabe ao certo.

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  12. Para immortal: Não estranho a situação relatada, no entanto, existem pormenores individuais que podem variar e consequentemente serem alvo de acção posterior. Como não domino a legislação laboral, recomendo um bom sindicato ou um advogado.

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  13. o problema não eu "ir para casa" mais cedo,como já disse eu esperei todo o ano... o único problema é ter-me sido comunicado 3 dias antes...

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  14. Um dia ainda vamos ter saudades da ministra M.L.Rodrigues.
    Temo a perda de qualidade da escola pública, quando se fala de melhor e mais ensino, diga-se, Português e Matemática, ditada por exames "rigorosos"...professores que só sabem didática e preparem muito bem seres para o mercado de trabalho..Qual? As fábricas? E os diretores das escolas, o que terão de saber? Talvez a autarquia resolva o problema da competência...basta o cartão.
    Mas como o Ministro não poderá mudar as famílias, senhores professores, os problemas de insucesso dos alunos têm que ser resolvidos pela escola por isso não esfreguem as mãos de contentes

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