Quem é professor do ensino não superior e alguma vez já leccionou turmas CEF ou Profissional, sabe como é extremamente difícil gerir comportamentos desadequados, quando a profunda desmotivação associada à falta de objectivos dos alunos e ao facilitismo legislado (e reforçado por algumas escolas), promovem de forma muita profunda a indisciplina.
Mas mais do que os alunos em si, há que pensar no porquê das escolas (no caso, das direcções) permitirem tanta falta de respeito, tanta balbúrdia, tanta indisciplina e tanto facilitismo. Nas turmas ditas "regulares" isso não acontece tanto. E porquê?
Embora reconheça que apenas estou a abordar um dos vértices da questão (existe um outro que reside na tipologia de alunos seleccionados para este tipo de cursos), pensem no que seriam as escolas de hoje sem o financiamento destas turmas "profissionais". Escrito de outra forma, entre suportar turmas de desmotivados, mal-educados e indisciplinados e cortar nos recursos necessários para o funcionamento da escolas, as escolas por regra optam pela primeira. Parece-me que estaremos perante uma questão de sobrevivência. A competição entre escolas é grande... Para além disso, e como todos sabemos, muitas das "colocações" dos professores só se mantém por causa das horas que entretanto surgem com a formação destas turmas (e respectivas disciplinas).
Assim, o que realmente importa discutir é como gerir a indisciplina clássica das turmas "profissionais" e a necessidade das escolas em obterem (e manterem) financiamento através das mesmas. Não existem receitas únicas, e obviamente que as que existem dependem muito de quem está "à frente" da escola. Os professores... Bem, os professores, esses estão no meio deste "pau de dois bicos" e muitos deles, com mãos amarradas e sem nenhuma vontade de as desatar. Aqueles que vão tendo vontade de o fazer, vão-se arriscando a sofrer consequências.
Será que o actual Ministério da Educação não poderia intervir para solucionar este problema? Fica a questão.
Será que o actual Ministério da Educação não poderia intervir para solucionar este problema? Fica a questão.
Ricardo quem nos tira a dignidade tira-nos tudo! Julgo que o assobiar para o lado nada resolve. Sou contratado e com contas para pagar e muitas das horas lectivas que tenho é graças aos Cursos Profissionais. Contudo a escola não pode ser lugar para delinquentes. Quem quer estar fica, quem não quer tem que sair, nem que para isso seja empurrado.
ResponderEliminarPensemos sempre nos outros alunos, que ainda vão sendo uma maioria (cada vez mais pequena)e protejamos os interesses desses.
Sendo isto um "pau de dois bicos" para nós, não tenho muito a dizer. Apenas que lecciono a uma turma dessas... Felizmente que este ano tenho a mesma turma do ano passado e já estou vacinada.
ResponderEliminarNão consegui (ainda) que eles aprendessem a minha disciplina, mas já aprenderam (e aplicam) algumas regras de estar numa sala de aula. É uma grande conquista? Podem achar que não, mas que num ano a evolução foi grande, lá isso foi.
Não há grande solução para este problema...Eu pergunto: por que motivo se obriga um jovem a "estudar", se ele não quer? Que o ponham a trabalhar! O Ministério devia canalizar os recursos que envia para as escolas para instituições que os pusesse verdadeiramente a trabalhar. Os miúdos não querem estar numa sala a aprender inglês,... pois que vão para um sítio em que possam ser úteis!!!E pagar-lhes uma bolsa? Por que não? Se cumprirem os seus deveres como trabalhadores, com certeza.
ResponderEliminarMuitas vezes o problema parte de o professor/a, que tem todo o direito a estar na profissão não estar (ou já não estar)preparado/a para este tipo de realidade.Muitos profs continuam a ter a ideia lirica do que é o ensino, os tempos são outros.
ResponderEliminarCaro Nuno
ResponderEliminarNão conheço nenhuma profissão onde as pessoas tenham que estar preparadas para ser insultadas e ofendidas.
Ah, não lembrei-me há aquele pessoal das coisas esquisitas, os sadomasoquistas, mas geralmente oferecem-se os serviços é de dominatrix não de servos submissos...
Já tive várias turmas desse calibre, e vou continuando a ter. O problema é que relativiza-se... Primeiro é muito mau, mas depois, como conseguimos que os "alunos" (leia-se seres vivos sentados numa sala de aula) se portem menos mal, já ficamos felizes.
ResponderEliminarVê-se isso com qualquer tipo de situação: se passamos num corredor de uma escola e estiver um aluno a gritar, quem lhe chama a atenção? talvez 2 em cada 10 professores. Ainda vou sendo um deles, mas por vezes a irritação é bem maior que olhar para o lado e fingir que não se ouve. Repare-se que escolhi uma situação que muitos já nem reparam, para não falar de insultos e agressões. É nas coisas simples que isto começa. Há 30 anos atrás existiam algumas destas situações, mas eram diferentes do normal, hoje, quem não actua desta forma, desrespeitando, é que é diferente.
Se for castigado um aluno por um desrespeito simples, as coisas melhorarão.
Coisas simples: se na primeira aula com uma turma calma, o aluno não for autorizado a ir à casa de banho (isto é meramente um exemplo, poderão existir excepções), dificilmente existirão exageros a esse nível...
sim dão horas, ajudam a pagar as contas ao fim do mês, mas desmotivam. pior, fazem-me chegar a casa sem paciência e sem vontade de ouvir ou falar com o que mais importante tenho na vida: a minha família. Valerá a pena... Não
ResponderEliminarPara nuno: Creio que a fase do lirismo terminou em 2005. E quanto à preparação de que falas, estará relacionada com tantos factores que será impossível falar em actualidade. Podes estar muito bem psicologicamente, praticares uma arte marcial, teres mil e uma ideias e recursos para aplicar na aula.
ResponderEliminarSe não tiveres o apoio da direcção quero ver essa preparação em acção.
Nuno,
ResponderEliminarÉ certo que os tempos são outros, mas por serem outros pode tolerar-se o desrespeito completo, a falta de princípios, a agressividade constante, a preguiça aguda???
O ensino é para todos e ponto final. Quem não tem motivação para aprender, tem que aprender na mesma. Mentira, porque não aprendem e ganham espaço para cometerem actos intoleráveis.
ResponderEliminarEsta é a razão de termos disto nas salas de aulas.
Quem está hoje preocupado com os alunos normais e bons que ainda temos? Quantos encontram soluções para rentabilizar os que querem e aprendem fácilmente? Temos os bons alunos a aprender metade do que podiam, mesmo que lhes sejam dadas tarefas complementares diferenciadas, coisa que poucos colegas fazem.
Alguém se preocupa com a excelência no ensino, ao nível dos alunos?! Não, estamos todos ocupados em melhorar o impossível, o aluno que não encontra na sociedade, nem na família, nem na escola, uma razão para lá andar.
Quantos colegas podem dizer que não gastam pelo menos 1/3 do seu tempo e metade da sua energia apenas com o controlo de problemas comportamentais dos alunos na sala de aula? No público, poucos, muito poucos, terão a felicidade de trabalhar com alunos que têm sede de aprender e de conseguir superar e de até superar-se.
"Se não tiveres o apoio da direcção quero ver essa preparação em acção." De acordo contigo quanto a essa parte!Mas não achas que há uma grande parte de professores que hoje em dia não sabe lidar/entender/comunicar com os alunos? Que muito provavelmente não foi preparado pra isso? Obviamente num mundo perfeito os miudos estavam lá prontos pra aprender super motivados, seria optimo, mas não é essa a realidade, e não é ser masoquista é tentar perceber os dois lados da moeda.
ResponderEliminaràs vezes é bastante difícil comunicar com quem simplesmente não pretende estabelecer nenhuma comunicação com um professor...tão só isso...
ResponderEliminare o que se observa muitas vezes é isto: "ah, é cef? então está explicado." não está nada explicado, não está nada desculpado...
Em 2009 fui colocado numa escola a meio de Outubro, apanhei uma turma do 12º ano profissional. Passado 2 meses só me perguntava como é que tinham chegado até ali 13 alunos. Sinceramente acho que só 2 ou 3 me pareciam ter conhecimentos de um aluno que tinha terminado o 9º ano. Das 2 experiências que tive com este tipo de turmas diria que para além de tudo o que os colegas já referiram muitas vezes os directores dos cursos, normalmente das áreas práticas, também acabam por contribuir muito para este estado de coisas. Lembro-me de me dizerem coisas do género "Estes gajos são diferentes"..."Tem de se dar o desconto", " O que interessa é estes gajos irem passando".
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