domingo, 14 de junho de 2009

A discussão que se impõe...

Tal como já tinha referido no post abaixo, o Paulo Guinote anunciou no seu blogue, uma declaração publicada no jornal “Público”, assinada por diversos colegas. A declaração é basicamente a publicitação de uma intenção de tomada de posição relativamente à não entrega da FAA.

Os motivos apresentados são todos válidos. Estes colegas, sabem perfeitamente que as probabilidades de serem sujeitos a consequências graves são bastante elevadas, e mesmo assim não hesitaram. É uma posição ilegal, mas perante uma legislação injusta é o rumo que estes colegas decidiram tomar. Embora não concorde este rumo (por diversos motivos que já apontei por diversas vezes), não posso deixar de assumir que respeito estes colegas. E respeito-os pela sua coerência e pela sua coragem.

Afirmam alguns que esta tomada de posição é um apelo à desobediência civil. Nada de mais errado. É um apelo à consciência de cada um. Sim… à consciência individual de um colectivo. Cada um de nós deve ponderar seriamente qual o rumo que irá tomar. Conhecer as consequências, conversar, discutir e assumir uma posição clara e inequívoca. Não tem de ser a mesma para todos. Embora fosse preferível que assim acontecesse… Na declaração constam claramente algumas das consequências. Os colegas apenas terão de as ponderar… Ninguém é suficientemente inconsciente para decidir quanto à entrega da FAA com base nesta declaração. Nem é isso que é pretendido…

Sei também que esta posição poderá ser entendida de outra forma. A tal forma que a mim me mete algum «nojo», e que se baseia na ideia de que os professores não querem ser avaliados. Certamente será por aqui que o Ministério da Educação irá rumar. E é certamente por aqui que nós nos devemos mobilizar. Não podemos deixar que este argumento pegue. E como fazê-lo? Bem, não devemos permitir que os colegas que optem por não entregar a FAA sejam acusados de não quererem ser avaliados. Sabemos perfeitamente que não é assim. Sabemos perfeitamente que nem todos temos o «estofo» ou a «bagagem» para radicalizar. Mas também não deverá ser por isso, que deveremos apontar os dedos ou virar as costas. Conciliar iniciativas e não criticar, é o caminho.

Quem entregar a FAA, será acusado de pactuar com este modelo de avaliação do desempenho. Muita gente se sente indignada com esta acusação… Eu não sinto, e sabem porquê? Porque é a mais pura das verdades. Significa exactamente isso. Mas como já tive oportunidade de afirmar, continuo a achar que não existem traidores à «causa», mas sim diferentes formas de encarar a «causa». E esta declaração permite-nos conhecer uma das formas de encarar a «causa». Será a mais eficaz? Poderá ser, principalmente se quem tem mais «estofo» ou «bagagem» a tomar. E não vou rebater este argumento, pois o próprio Paulo Guinote a assume como verdadeira. Não é necessário que todos considerem esta posição, mas bastarão alguns para que o «edifício» imploda. A par desta forma de luta, considero que todas as outras serão igualmente válidas, se bem que não produzam efeitos tão imediatos e mediáticos, não serão de desprezar.

De uma vez por todas, é certo e sabido que muitos de nós irão entregar a FAA. Quem a esta altura afirma que não a vai entregar, já há muito que decidiu. Ambas as situações têm de ser respeitadas. O confronto de posições, poderá levar a extremos: Os que não entregam e os que entregam.

Se continuarem a «escrever» que a entrega de uma declaração de objecção de consciência juntamente com a FAA é completamente inconsequente, às tantas, teremos colegas que irão entregar a FAA, sem mais nada, pois acharão que não vale a pena. E nesse caso, a vitória do ME será plena. Respeitem as diferentes posições, por favor! Acham mesmo que «dar na cabeça» de quem irá entregar a FAA, ou de quem pelo contrário, afirma que não o fará, obterá resultados positivos? Não... Pelo contrário, poderá levar a uma desmobilização ainda maior. Tal como não admito que critiquem os que radicalizam a luta, também não acho correcto atribuir classificações depreciativas, aos que não irão proceder dessa forma.

Esta é a altura para a reflexão. A reflexão por parte de quem está indeciso. A reflexão que se exige a todos. Eu já reflecti e decidi... A minha decisão é conhecida. Irei entregar a FAA, com uma declaração de objecção de consciência. Poderei estar a agir errado, a ser calculista, a ser demasiado racional, mas não consigo ponderar uma tomada de posição, que não passe por uma forma de luta legal. Perdoem-me a sinceridade... Perdoem-me a falta de «coragem»... Mas como já tive oportunidade de esclarecer, não estamos todos na mesma «situação», e como tal, não devemos ser criticados de igual forma.

Apenas para concluir: Acho que tudo aquilo que tem acontecido estas últimas 3 semanas tem sido extremamente positivo, pois acordou muita gente para a realidade. Uma realidade que muitos não queriam ver... Nem assumir.

10 comentários:

  1. Louvo a tua honestidade.
    Eu sou uma das subscritoras da declaração de intenções.
    Um beijo
    reb

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  2. Ricardo,
    Obviamente respeito a tua atitude.
    Só me dá uma certa "impressão" a forma como repetidamente insistes na "ilegalidade" da nossa posição.
    Pronto.
    Não me arrepela nada, só me espanto com tamanha insistência...

    Olha se a malta do MFA fosse assim tão legalista...
    (salvo as devidas e respeitosas distâncias...)

    Ainda ficavam à espera da resposta ao requerimento para fazer uma revolução.
    Era chato.
    Podiam ter-se atrasado.
    ;)

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  3. É Ricardo, também a louvo e concordo parcialmente com o que dizes...
    Acho que não entregar a FAA é sem d´vida uma atitude muito corajosa, mas não penso que entregar seja falta dela.

    Estamos a falar de adultos, a viver numa sociedade democrática, e onde as várias tomadas de posição t~em de ser respeitadas.

    É claro que também acho que só uma decisão como a do Paulo e companhia podia fazer a diferença e que qualquer outra não vai ter qualquer impacto, mas pronto, eu também vou entregar, tal como entreguei objectivos individuais.

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  4. Para reb.: Vindo de ti, o que escreveste tem um grande significado. Considero-o quase como um elogio. Ainda por cima quando sei que foste uma das que subscreveu a declaração de não entrega da FAA. Os meus parabéns pela acção... De louvar. Coragem não te falta. Espero que um dia nos cruzemos numa qualquer escola deste nosso Portugal.

    Um beijo.

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  5. fazem um discurso sobre os defeitos do sindicalismo que temos, não propõem outro, não propõem a construção de outro sindicato; mas atiram-se à fenprof, até parece que a fenprof é o inimigo. E eles? Se se lembrassem de entrar nos sindicatos, trabalhassem para que os sindicatos fossem mais combativos, isso não lhes ficaria mal, mas isso não lhes agrada... aí já não têm «coerência»...Resumindo, nem criam novos sindicatos, nem participam, mesmo que criticamente, no seio dos que existem actualmente.
    Enfim, não ajudam nada a construção de um plano de luta colectivo

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  6. Para paulo g.: Ok, Paulo. Até posso deixar de utilizar o termo "ilegalidade", mas não é por deixar de o utilizar, que a iniciativa se torna legal. Sabes perfeitamente que não é... Mas estás certo, quando dizes que insisto em demasia nesse aspecto. É difícil não o fazer, pois é precisamente por isso (a par, obviamente das consequências) que não vos acompanho.

    No entanto, e como acho que todos, a esta altura, já conhecem com alguma profundidade as «leis», os objectivos fundamentais da luta e as formas de a fazerem, acho que se torna redundante utilizar uma e outra vez, o argumento da "ilegalidade". E lá estou eu a utilizá-lo novamente. Eh eh eh...

    Quanto à tua «ironia» do MFA. Tens toda a razão... Se fosse necessário um requerimento para fazer uma revolução ainda hoje estariamos em pleno "Estado Novo". Mas também lá teremos de agradecer que o MFA não tenha publicitado que iria fazer uma revolução, caso contrário, o Marcelo Caetano lá teria arranjado maneira de dar «cabo» da mesma. ;)

    Mas na altura a sociedade não era tão mediatizada, os meios de comunicação eram controlados e não existiam blogues. Os tempos eram outros... Não podem ser estabelecidas comparações. Mas compreendo os motivos de teres utilizado essa analogia. Mensagem recebida e compreendida.

    Um abraço.

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  7. Ricardo,
    só para ajudar a que cada um perceba com o que pode contar, sem estar à espera de que haja uma receita igual para todos:

    http://fjsantos.wordpress.com/2009/06/14/todos-os-professores-sao-iguais-perante-a-lei-no-final-do-ano-vamos-poder-constatar-que-alguns-serao-mais-iguais-do-que-outros/

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  8. Não entreguei os objectivos individuais mas entregarei a AA.
    Entregar aquele género de objectivos individuais, e naquelas circunstâncias, era ser cúmplice de um mau modelo de avaliação. Entregar a AA não envolve essa cumplicidade, pois é a minha AA, escrita nos termos que eu entender. Se os professores estivessem a ser avaliados com um bom modelo de avaliação também existiria o momento da entrega da AA.
    Ao entregar a AA não estou a desistir da luta contra este modelo de avaliação, estou apenas a distinguir o que faz sentido do que não faz sentido.

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  9. Só uma nota: ser sujeito a este modelo de avaliação não significa pactuar com ele. Ele é injusto, mas a prova desssa injustiça é sentida em primeira linha por quem o sofre na totalidade. Eu resolvi jogar este «jogo» para mostrar (e sentir) que ele é injusto. Acreditem, é extremamente injusto. Digo-o «de dentro». Entregar uma ficha de auto-avaliação não altera a posição de quem é contra. Vai mostrar é que a nossa auto-avaliação é completamente inócua para a nossa avaliação. É necessário é desmontar os argumentos do governo que irão pretender colar a entrega da ficha à aceitação do modelo.

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  10. Eu pactuo todos os dias com leis e procedimentos que me parecem absurdos e injustos...vocês não? Várias vezes ao dia desejo afastar-me desta civilização, mas como não ouso...aguento.Eu não entreguei objectivos individuais porque não era obrigada a isso e a recusa foi uma maneira de mostrar a indignação contra o modelo de avaliação, uma maneira, tal como a participação em manifs ( todas) e greves ( todas). Todos os anos fiz relatório de avaliação das actividades que realizei e tb não concordava com o modelo em vigor...Vou entregar este ano relatório idêntico e não vejo por que não. Mas continuarei a manifestar a minha indignação contra o ECD, na escola, na rua e nas urnas. Corajosamente.

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