quarta-feira, 22 de abril de 2009

Extensão da «geração sócrates»?


Comentário: O primeiro-ministro anunciou ontem, a extensão da escolaridade obrigatória para 12 anos e fê-la acompanhar de bolsas de estudo para todos os alunos com aproveitamento que estejam nos dois primeiros escalões do abono de família. A medida aplica-se aos alunos que se vão inscrever no 7.º ano, no próximo ano lectivo (2009/2010). Fazendo uma análise «light» desta medida, significa que daqui a 3 anos começaremos a sentir os primeiros reflexos. Será eventualmente mais uma medida estatística. Se forem gerados os mesmos mecanismos facilitistas que estão actualmente em implementação até ao 9.º ano, "Novas Oportunidades", CEF´s e EFA´s, teremos um acréscimo de turbulência, na já de si conturbada «escola-pública». Se assim não for, considero a medida bastante positiva, não só para a formação académica dos nossos alunos, mas também no que concerne ao acréscimo de vagas para professores que esta medida irá trazer.

9 comentários:

  1. Eu trabalho com EFA e posso dizer que temos tido bastante sucesso. O mesmo já não posso dizer dos EFAs e CEFs administrados nos centros privados.
    Sabes que eles têm cotas. Quantos mais despacharem, mais dinheiro entra.

    Ah... não se confundemos EFA com RVCC

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  2. Eu por acaso também trabalho com EFA e CEF e só vejo facilitismo. Alguma coisa aprendem, daí a terem equivalências ao 9º ou ao 12º e ainda por cima concorrerem à Universidade, é um atentado. Quanto ao sistema de RVCC, NEM QUERO COMENTAR, POR FAVOR, ACBEM COM ISSO!!!

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  3. Esta medida vai acabar com os rvcc.
    Para além de mais professores, será necessa´rio mais escolas e eu estou a disposição de fornecer os meus serviços .
    NCC
    Neca -Construção Cívil- Ldª

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  4. Nada disto vai representar mais professores (os quadros das escolas secundárias estão cheios de horários zeros), nem mais escolas (o decréscimo da população é já evidente nas escolas - há já escolas a "roubar" alunos a outras, de forma a manterem os seus professores).
    Aumento dos anos de escolaridade, só por si, não equivale a melhor ensino; tornando-se obrigatória os mecanismos de facilitismo que agora dominam o básico serão levados para o secundário.
    Perdem os alunos do secundário que estão lá com o objectivo de prosseguir estudos superiores e cujos pais não têm capacidade económica para os colocar no privado.

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  5. Não percebi o texto do Ricardo, quer que os alunos do Abandono Escolar sigam a via Liceal/Geral do Secundário.

    Para estes alunos só vejo duas saídas: continuarem no abandono escolar ou então seguirem vias profissionais, necessariamente menos exigentes do ponto de vista académico e essencialmente práticos.

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  6. Não será uma medida assim tão positiva!

    Se não vejamos:
    Os que se recusam a estudar prejudicarão os que querem;
    O ensino/conhecimento não é valorizado, há casos em que candidatos a emprego têm de sonegar as reias habilitações para serem admitidos isto é têm uma licenciatura e dão como habilitação apenas o 12.º ano;
    O nono ano de escolaridade é suficiente para quem quer enveredar pelo mundo do trabalho;
    Ninguém deve ser obrigado a estudar as pessoas devem sentir essa necessidade e que deve ser valorizada;
    Com 16 anos é uma boa idade para se aprender uma profissão, eu iniciei com menos de 12 anos;
    O ensino secundário vai igualar, em termos de facilitismo, ao ensino básico e é pena.
    São apenas alguns ex.

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  7. EU SOU A FAVOR. TEMOS DE QUALIFICAR A POPULAÇÃO..PARA ISSO será preciso equipar as escolas com mais recursos físicos e diversificar a gama de cursos PROFISSIONAIS (POIS SABEMOS QUE 60 % DOS ALUNOS JÁ NÃO GOSTAM DO ENSINO NORMAL) PARA MOTIVÁ-LOS E AUMENTAREM A SUA AUTO-ESTIMA...POIS todos nós seres - humanos temos qualidades....temos é de descobri-las.
    Maria ritinha

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  8. Para Alex: Referi formação académica e não profissional. Aliás, cada vez mais considero que o futuro está nos cursos profissionais. Pelo menos, no actual panorama económico.

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  9. 12 anos de escolaridade obrigatória
    Os Equívocos

    Recentemente, o 1º ministro José Sócrates anunciou a implementação da obrigatoriedade de frequência escolar de 12 anos, aplicável a partir de 2009/2010 e seguintes, a todos os jovens que se inscrevam no 7º ano.

    A medida é correcta e já tinha sido apontada como necessária, quer pelo Governo Regional, quer pelos governos de coligação PSD-PP anteriores ao actual.

    O primeiro equívoco não é do Governo. É dos jornalistas e de – curiosamente – muitos responsáveis que comentam a decisão: a confusão entre uma escolaridade de 12 anos e a conclusão do 12º ano.

    Até hoje, a escolaridade básica eram 9 anos (1º ao 9º ano) e a escolaridade obrigatória de 9 anos. Daí adveio a confusão. Entre os dois 9 (noves). A verdade é que nunca foi obrigatório que todos concluíssem a escolaridade básica (o 9º ano). Mas tão só que ficassem 9 anos, aí sim, de forma obrigatória, no sistema. Os alunos ficam “livres” de o deixar, ao completarem 16 anos antes do início do ano lectivo.

    O 9º ano só é concluído em 9 anos nos casos em que a carreira do aluno é imaculada. Sem “chumbos”. Assim, é só nesse caso, que a conclusão da escolaridade obrigatória é simultânea com o termo do 9º ano.

    A verdade é que esses casos seriam apenas alguns. Sempre cada vez mais, mas ainda longe de números que pudéssemos considerar como razoáveis.

    E ali estava o problema. Muitas vezes, apesar da escolaridade obrigatória estar cumprida, a conclusão do 9º ano ficava muito longe para uma grande fatia dos alunos. Devido aos anos “repetidos” que originava atrasos na frequência. O que não é bom para os alunos e para o País.

    Agora, a Escolaridade Básica vai continuar a ter 9 anos (1º ao 9º ano) mas passará a ser obrigatório ficar na escola (ou em formação), durante 12 anos.

    Chegamos então, ao segundo equívoco. Este já de uma maioria considerável dos intervenientes, onde se incluem os responsáveis governativos: ao contrário do que vêm referindo, o alargamento da escolaridade obrigatória a 12 anos pouco irá influir no Ensino Secundário e não terá absolutamente nada a haver com o 12º ano…

    Os grandes problemas estão bem identificados, nas situações de abandono precoce. Ou seja, no grupo de alunos que, ao atingir os 16 anos optavam por sair da escola. Encontrando-se, estes, nos 6º, 7º, 8º ou 9º anos. Ou seja, acumulando insucessos no ensino básico pelo que, muito longe de poderem almejar atingir (e muito menos concluir) o Secundário.

    Esta saída precoce, destes alunos, do sistema (no qual não se identificavam) era, muitas vezes, uma benesse para as Escolas. E por razões entendíveis: afinal, esses alunos eram referenciais pouco interessantes para os restantes alunos e focos de instabilidade e problemas para o estabelecimento.

    Mas são estes jovens que, agora, sentirão a mudança da lei: terão que ali (nas escolas) “penar” mais 3 anos. Não no Secundário, mas no Básico. Onde estão agora, sem perspectivas de ir muito mais longe. Com as óbvias implicações ao serem impedidos, antes dos 18 anos, de aceder ao mercado de trabalho. Serão mais problemas para as escolas e professores que os terão que aguentar mais 3 anos. Mais velhos, maiores, menos “controláveis”, mais frustrados, mais incompreendidos.

    A notícia que a idade de empregabilidade se manterá nos 16 anos é contraditória. A não ser que esses jovens (16-18 anos) se mantenham em simultâneo, no mercado de trabalho e em frequência escolar/formativa.

    O que nos leva ao 3º equívoco. A bolsa de estudo. Para os alunos no Secundário com aproveitamento. O que constitui um “tiro” completamente ao lado. Como vimos, o que esta nova lei vai acrescentar (e manter mais 3 anos no sistema) são alunos no Básico e sem aproveitamento regular. E são estes alunos os que terão que ser apoiados. Caso contrário, teremos um “inferno na Terra” para eles, para os outros alunos, para os professores e para as suas Escolas.

    A bolsa de estudo para os alunos do Secundário, com aproveitamento, servirá para aqueles que, sem ela, estariam ali mesmo. Não acrescentará nada ao crescimento da escolaridade, sem prejuízo da oferta ser-lhes (a esses alunos) pessoalmente interessante (afinal é-lhes dado dinheiro).

    Ainda não se entendeu se a atribuição da bolsa será feita juntamente com o Abono de Família, pelo sistema da Segurança Social (deverá ser assim, para simplificação administrativa) ou através do sistema da Acção Social Escolar (processo muito mais complicado).

    Escrevi no início que a medida é boa. E é.

    O grande impacto será vivido na possibilidade de mais alunos concluírem a escolaridade básica. Pois 9 anos obrigatórios, para estes alunos com insucesso acumulado, não chegavam para, sequer, concluir a Escolaridade Básica. Agora com 12 anos, isso passará a será possível.

    Mas isto não é suficiente. Fazer a lei é fácil. Assegurar os resultados objectivados, é mais difícil.

    Mas é possível. E como:

    Assegurando a multiplicação de ofertas de formação profissional de nível II (e não de nível III, conforme é usual se ouvir falar), de preferência nas Escolas de Ensino Secundário onde as idades dos alunos agora “retidos” no sistema se equivalerão às dos restantes, facilitando a sua integração. Nas zonas de população mais rarefeita, será necessário garantir transportes regulares para garantir o acesso desses alunos aos locais e escolas devidas. A idade (mais avançada) dos alunos facilita o processo (distâncias maiores a percorrer).

    Por outro lado, haverá que incrementar os Cursos de Educação Formação que atribuem profissionalização de nível II a fim de os disponibilizar aos alunos, que, já perto dos 18 anos, concluem o Básico mas já não estão dispostos a continuar no sistema ao longo dos mais 3 anos que constituem o Secundário. Aí entram esses cursos com durações de 1 ano que acrescentam uma componente profissional ao Ensino Básico já concluído.

    Realmente, como diz a Ministra, não deverá haver grande acréscimo imediato de alunos no sistema. Daí não se dever esperar grandes incrementos na oferta de trabalho docente. Gradualmente haverá mais alunos, mas contrabalançados com a redução demográfica, o seu número deverá manter-se mais ou menos estável ou com uma variação gradual positiva reduzida.

    As ofertas prévias na Educação Pré-Escolar (alargamento da sua frequência) e numa Escola a Tempo Inteiro de qualidade, reduzirão o insucesso e permitirão, primeiro, que a conclusão da escolaridade básica possa ser, efectivamente, generalizada e que, depois, então, se aumente o mais possível e de forma sustentada o nível médio formativo dos jovens portugueses para além do Ensino Básico.

    Finalmente:

    A bolsa de estudo anunciada é um tiro falhado. Que custará 150 milhões de euros anuais dentro de poucos anos. Ora, não se entende para que serve.

    Afinal, aqueles alunos são apoiados pela Acção Social Escolar para efeitos de acesso a livros, material escolar, transportes, alimentação, acesso à banda larga. Já quase tudo gratuito. Antigamente, a bolsa de estudo (e bem) justificava-se para os casos em que a escolaridade obrigava à frequência escolar em estabelecimentos distantes, servindo para financiar uma morada de recurso.

    Assim, para que servirá este dinheiro dado assim, de forma avulsa? Não quero nem sugerir algumas aplicações (tão erradas quanto possíveis).

    Muito mais correcto seria aplicar esse dinheiro no reforço dos apoios ASE, aplicáveis a todos os alunos com mais de 16 anos (sim, também do básico e sem considerar o facto do aluno não ter obtido, pontualmente, aproveitamento) de forma muito mais criteriosa (criar crédito para determinados usos) e, talvez, suportar estágios – por inteiro - nas empresas que aceitem alunos a frequentar cursos de nível II. Incluindo compensação às empresas e aos alunos (neste caso, substituindo-se ao emprego agora impossibilitado).

    O acesso precoce destes jovens, já nesta fase (estágios nas empresas) ao sistema da Segurança Social (habilitando esses jovens aos benefícios correspondentes) também poderia ser analisado e financiado pelo Estado (ao invés da atribuição inútil das bolsas).

    Considero que é aqui que se deverá centrar o esforço máximo a fazer nos próximos anos. Mesmo que, ganha a primeira aposta e ultrapassada a primeira fase, tudo se possa transferir para o nível seguinte: secundário e formação de nível III. Mas por agora, ainda estaremos longe (talvez 10 anos) disso.

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