sábado, 20 de junho de 2009

O relatório do CCAP e o «recuo» governamental.

Foi ontem divulgado um relatório do Conselho Científico para a Avaliação de Professores (CCAP), relativo ao acompanhamento e monitorização da avaliação do desempenho docente. Um documento que merece leitura atenta.

Este relatório consiste em constatações do óbvio (se bem que, se tenham «esquecido» de alguns pormenores ou desvirtuado outros). É um relatório que posso classificar de «demolidor» para este modelo de avaliação do desempenho. No entanto, gostava que a «linguagem» utilizada fosse mais directa e assertiva. Muitos elementos ficam no «ar», sem a análise rigorosa que seria essencial.

Não deixei de achar curioso, a classificação dada neste relatório, aos blogues: "Incidentes Críticos no Processo", inseridas na tipologia "Movimentações Externas". Se foram, ainda bem... Andava por aí muita gente iludida e mal informada.

Estranho também o sentido de oportunidade do aparecimento deste estudo do CCAP, ou seja, logo após as declarações do Primeiro-Ministro e acompanhado da divulgação de um despacho da Ministra da Educação, relativo à solicitação ao CCAP de como proceder a partir do próximo ano lectivo. A Ministra apresenta duas alternativas, que na minha opinião, são ambas inviáveis, por tudo aquilo que consta do relatório do CCAP:

(a) Aplicar o modelo de avaliação de desempenho docente tal como previsto no Decreto Regulamentar nº 2 de 10 de Janeiro 2008, com as alterações eventualmente consideradas necessárias, designadamente a respeitante à duração dos ciclos de avaliação. Esta decisão implicaria retomar o carácter obrigatório da componente científico-pedagógica da avaliação, bem como considerar eventualmente, na componente funcional, os parâmetros que avaliam o contributo dos docentes para a melhoria dos resultados dos alunos e para a diminuição do abandono escolar.

(b) Manter, por mais um ciclo avaliativo, o normativo actualmente em vigor (Decreto Regulamentar 1-A/2009 de 5 de Janeiro que introduziu medidas de simplificação da aplicação da avaliação no ano lectivo de 2008/2009), de forma a permitir às escolas e aos docentes o desenvolvimento e a consolidação das competências avaliativas, bem como um período de maior estabilidade, antes de proceder a novas alterações.

Se dúvidas existissem, algo se torna perfeitamente claro. Primeiro, as declarações do Primeiro-Ministro, depois o despacho da Ministra da Educação e agora o relatório do CCAP, não deixam margem de dúvidas quanto à estratégia seguida pelo partido actualmente no Governo: Prometer um recuo estratégico, tendo em vista as próximas eleições legislativas. Só alguém realmente muito estúpido, acreditaria na sinceridade destas promessas. Só quando este modelo for abandonado e substituído por outro melhor, é que poderemos «cantar» vitória. Fazê-lo agora seria prematuro, e até certo ponto, ingénuo.

12 comentários:

  1. O objectivo de facto é somente caçar alguns votos aos profs mais esquecidos... mas de facto é adiar para 2012 e voltamos ao mesmo. Temos de correr com esta gente, mas... com garantias de quem os for substituir troquem não só este modelo de avaliação mas principalmente a divisão da carreira....

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  2. Nunca houve nem há qualquer Simplex. O que existe é igualmente Complex. A entrega de portfólios, com planificações e com comprovativos do cumprimento/superação dos O.I., tem servido para encher as secretarias de inúmeras escolas, pelo país fora.

    Assim, não vamos lá. O modelo tem mesmo de ser morto e enterrado.

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  3. É absolutamente fabuloso aquilo de que os senhores iluminados do ministério se lembram. Vamos ver se não enganam ninguém com estas manobras, claramente, eleitorais. Se lá continuarem ainda havemos de ser submetidos a testes psicotécnicos, de QI,etc, etc.

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  4. Pois eu acho que isto já morreu.
    Haverá manobras de diversão até Outubro e os que vierem depois não se atrevem a enfrentar a nossa "fúria" de novo. :)

    Eu já ando mto contente! :)

    Abraço

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  5. Eu concorri para sair da minha escola, pois não aguentava o nível de adesivite. Estou demasiado desiludida para conseguir ter esperança. O modelo que existe, neste momento, continua a ser um pesadelo.

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  6. Será que este governo e a Milú pensam que os professores são estúpidos? Se pensam estão enganados. Como diz o ditado "com papas e bolos se enganam os tolos", os professores não são tolos. Nas próximas eleições os professores saberão castigar o governo PS através do voto contra o PS!

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  7. Ricardo, a ministra está moribunda. Este governo está moribundo.
    Tudo o que ela disser agora é só para não "perder a face".
    Já não tem força para impor nada!
    Restam os directores-ditadores.

    E falta que os sindicatos dêm a machadada final.
    Se não aproveitarem esta oportunidade, perdem a dignidade perante os professores.

    Que não se pense que estas políticas destruidoras da escola pública caíram por causa de um relatório encomendado pelo ME.
    Isso seriam eles a "dar uma de honestos" na recta final.

    Caíram pq os professores NAÕ DESISTIRAM de lutar!

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  8. Sugiro que se volte a trazer, para a luz da ribalta, o parecer do GP sobre o Simplex. É algo que merece toda a credibilidade e que, neste momento, merece ser relembrado.

    É impensável prolongar o Simplex. Cabe-nos contribuir, de todas as formas possíveis, para que tal não aconteça.

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  9. O simplex 2 pode ter «morrido»... O complex pode estar moribundo... Mas atenção, quer um quer o outro, ainda estão em vigor. Não bastam declarações de arrependimento, relatórios «comprometedores» e teatro governamental para podermos declarar morte efectiva deste modelo de avaliação do desempenho.

    Para além disso, ainda temos uma das bases desta avaliação do desempenho em vigor: a divisão da carreira. Só mesmo abolindo esra, poderemos estar relativamente seguros de que realmente este capítulo negro foi encerrado.

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  10. Tens razão, Ricardo.
    Por isso, penso que há condições agora para os sindicatos darem a machadada final: fim deste ECD que nos dividiu.
    Teriam o nosso apoio.

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  11. Obviamente que teriam o nosso apoio. O problema é os sindicatos terem a «arte» para aproveitar um problema em favor dos professores.

    Vamos ver se não ficam pasmados com este «recuo» e se mexem a sério...

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  12. Há que pressioná-los.
    Já lhes escrevi e outros colegas tb...

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