quinta-feira, 26 de julho de 2018

A luta não acabou

Divulgado com autorização do autor, António Pedro Martins.


Hoje realizei a primeiras 2 reuniões na minha escola, onde os professores já desmobilizaram. Levei comigo uma declaração para a ata mas, atendendo à ordem de trabalhos, os colegas acharam que não havia espaço para a introduzir.

"Declaração do professor de Físico-Química para a ata:

A maior entidade criminosa do país é o estado, rodeado por uma poderosa máquina de interesses instalados, onde se incluem partidos políticos, banqueiros, clubes de futebol, gabinetes de advogados, empresas de construção civil e outras, igrejas, etc. E um dos objetivos do estado, para garantir a sua continuidade no poder, é manter uma sociedade constituída por cidadãos obedientes e bem-comportados. É neste contexto que compreendemos a forma como os governantes têm tratado a educação em Portugal: fecham escolas, aumentam a carga horária dos professores, aumentam o tamanho das turmas, lançam campanhas na comunicação social para manchar a imagem dos professores na opinião pública, reduzem o orçamento das escolas, não lhes permitindo ter as necessárias condições de conforto, etc, etc, etc., ao mesmo tempo que gastam milhares de milhões de euros em bancos falidos, em parcerias público-privadas, na compra de equipamentos militares, no perdão de dívida a grandes empresas, etc, etc.

Os professores trabalharam todos os dias, ano após ano, e agora querem retirar-lhes isso da sua história? Em nome de quê? Qual é a verdadeira razão desta iniciativa do governo? Não é seguramente falta de dinheiro, pois não foi há muito tempo que o governo fez a recapitalização da Caixa Geral de Depósitos, com implicações diretas nas contas públicas e no défice, que aumentou de 0,9% para 3%, e até o fez às escondidas.

A luta que os professores encetaram neste final de ano letivo não é uma luta pelos seus direitos, é uma luta pela sua dignidade. É uma luta histórica, sem precedentes no país, e não acabou. Foi apenas uma batalha. Senhor ministro da educação, senhor ministro das finanças, senhor primeiro ministro, os senhores feriram a dignidade dos professores. Nós vamos continuar a trabalhar, vamos continuar a dar o nosso contributo diário para levar o país para a frente, e construirmos uma sociedade de cidadãos livres, íntegros, criativos e bem informados, resistindo a todas as vossas iniciativas, porque sabemos que é exatamente isso que vocês não querem."

10 comentários:

  1. É isso mesmo que se está a passar, tudo em nome dos interesses económicos em detrimento daquilo que se deve a quem trabalhou. Se fôssemos um banco...

    ResponderEliminar
  2. Parabéns António, é desta gente que a nossa classe precisa: corajoso, destemido e determinado nas tuas convicções. Abraço

    ResponderEliminar
  3. António Pedro Martins, os meus parabéns pela sua coragem de tentar pôr numa ata aquilo que a maioria de nós pensa. No entanto, não estranho que não tenham introduzido o seu texto, pois, infelizmente, nem todos têm a sua coragem e o medo grassa nas escolas: medo do ME, das direções, dos pais e até dos próprios alunos; na minha certamente que também não o teriam feito. Enfim, é o país que temos.

    ResponderEliminar
  4. Lamento, mas totalmente a despropósito para pôr numa acta uma vez que se trata de um texto político.

    O que podia e devia ser colocado na acta, na situação em que os Ct se realizaram, era a chamada de atenção para a ilegalidade da coisa.

    ResponderEliminar
  5. Concordo com o anonimo das 1:23
    Qual o aspeto pratico desta declaração numa ata de CT ?

    É só teóricos...

    ResponderEliminar
  6. Um professor com Dignidade versus um conselho de turma de palhaços. Se os demais perdessem 18 anos ou mais tb. achariam que estava tudo bem . Palhaços é pouco...

    ResponderEliminar
  7. Um professor com dignidade que deu 15 dias de aulas no primeiro período, meteu baixa para passear de bicicleta o resto do ano letivo e regressou após o término das aulas todo reivindicativo...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. É verdade meu caro anónimo. Um professor com dignidade que deu aulas 19 anos sem faltar e que chegou a um limite, embora muitas vezes o tenha ultrapassado.
      É verdade meu caro anónimo, um professor que dá a cara, que não se esconde...
      Acolho o seu comentário e o seu medo de se expor.

      Eliminar
  8. Sobre aqueles q metem atestado...pano para mangas

    ResponderEliminar