quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Teorias da educação...

Sou, de facto, uma péssima professora. Não há volta a dar. Por mais que eu tente, por mais que eu me esforce, apontam-me o dedo… uns por isto, outros por aquilo, os mesmos por isto e por aquilo… 
Quando levo apontamentos para as minhas aulas, é porque sou uma insegura a nível científico e preciso de suporte. 
Quando não levo nada, é porque sou uma inconsciente que não prepara as suas aulas. 
Quando falo em Inglês, é porque não me preocupo com os que têm mais dificuldades e estes vão acabar por desistir e deixar de tentar acompanhar a aula. 
Quando falo em Português, não estou a puxar pelos alunos e estes não estão a aprender nada. 
Quando me irrito, é porque passei mal a noite ou me chateei com o meu namorado. 
Quando não me irrito, é porque não quero saber: se eles querem aprender, aprendem, se não querem, o problema é deles… paciência! 
Quando grito, é porque não era preciso gritar: eles não são surdos. 
Quando não grito, eles são, de facto, surdos, e não me ouvem. 
Quando parto para uma participação disciplinar, é porque é injusto: não era só este ou só aquele que estava a perturbar a aula. 
Quando não há participação disciplinar, é porque não tenho pulso e eles fazem o que querem. 
Quando trabalho com os meus colegas de grupo, é porque não sei fazer nada sozinha. 
Quando não trabalho com os meus colegas, é porque sou uma individualista e tenho a mania. 
Quando utilizo o manual, é porque as aulas são uma seca.
Quando utilizo outros recursos, é porque o manual foi caro e não está a ser utilizado. 
Quando passo os intervalos com os meus colegas na galhofa, é porque o eu quero é brincadeira e não sei aproveitar bem o meu tempo. 
Quando passo os intervalos a correr de um lado para o outro para tirar cópias, requisitar algo da biblioteca, redigir uma participação ou lançar os sumários, é porque não sei viver ou porque só vivo para a escola e devo ter seis gatos em casa à minha espera. 
Quando estou com gripe, é porque devia faltar: não é nada saudável estar fechada numa sala e espirrar para cima dos alunos. 
Quando falto, é porque me baldo. 
Quando brinco, estou a dar confiança a mais. 
Quando não brinco, não sei criar contextos saudáveis para a aprendizagem. 
Quando os meus testes são longos, é porque quero tramá-los: é muita coisa para assimilar para um só teste. 
Quando os testes são curtos, é porque quero tramá-los: eles até sabiam o resto, mas o resto não saiu no teste. 
É isso: sou péssima professora… Vou mas é beber um copo e esquecer… É isso que eles fazem nos filmes americanos: vão beber um copo… Ou dois… Aliás, nos filmes, os melhores professores bebem muito… Vou tentar só mais esta, a ver se acerto…

19 comentários:


  1. Adorei o texto!!!não falo consegui descrever tão bem o meu dia.a.dia.

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  2. E não que é mesmo assim? Excelente nos sentires e nas palavras.

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  3. E saber brincar com a situação é mesmo, por vezes, o melhor remédio!!

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  4. Reading a brilliant text while sipping a glass of red wine. What can I say? You've just made my day at the end of it. Keep it up!

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  5. Tudo dito, realístico e lembra a história do velho, do menino e do burro, logo age de acordo com os teus valores e consciência, porque falar é fácil .

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  6. Traduz na perfeição o que é ser professora !!

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  7. Serei a única que não concorda com este texto? Nem todos os dias são assim. Nem todas as turmas são assim ao longo da vida de um professor (e eu já dou aulas desde 1973..e nessa altura tb tive turmas bem difíceis pois os contratados tal como agora tinham as piores turmas! Mas sempre gostei de ser professora e de ensinar e de aprender. Bem sei que atualmente ser docente exige por vezes demais e nos deixa mt cansados mas será que os nosso alunos, os nosso filhos, os nossos netos são tão mauzinhos assim?

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    1. Mas eu também gosto muito de dar aulas...
      Mas eu nunca falei enquanto professora contratada (embora seja uma)...
      Mas eu não estava a falar de alunos bonzinhos ou mauzinhos...
      Onde é que eu falhei, mais uma vez??!! :-)

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  8. Eu gostei do texto... e não se trata aqui de alunos mauzinhos, como o (a) anónimo (a) anterior refere...

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