No sítio do Educare - Artigo de opinião - a 12/05/2008: "A reprovação dos alunos, sem que estes possam abandonar a escola, tem duas consequências inevitáveis para a turma onde vão ser inseridos: diminuição da qualidade do ensino e aumento dos problemas disciplinares.
Parece que a ministra da Educação começou agora a perceber que as reprovações são o principal cancro do nosso sistema de ensino. Mais vale tarde do que nunca. Fraústo da Silva já tinha percebido isso há mais de vinte anos e os finlandeses há mais de quarenta. É uma daquelas evidências que só mesmo os cegos intelectuais não conseguem ver. Sendo certo que, a fazer fé no que para aí se ouve e escreve, só talvez daqui a trinta anos a maioria dos professores e comentadores vai perceber isso. Por alguma coisa, somos um dos países mais atrasados da Europa.
(...)
E qual é a consequência desta estupidez defendida por professores e comentadores? Antigamente, o problema ficava resolvido com o abandono escolar. Mas hoje, os alunos com menor capacidade, porque estão proibidos de abandonar a escola, vão reprovando todos os anos e acumulando-se nas turmas, alterando completamente o seu equilíbrio e sem qualquer vantagem para o sistema, porque as turmas ficam piores, quer a nível de comportamento, quer de conhecimentos.
(...)
Quero com isto dizer que, se os alunos não reprovassem no ensino obrigatório, a qualidade de ensino melhoraria? Obviamente, porque a percentagem de bons e maus alunos por turma mantinha-se constante, uma vez que ambos sairiam do sistema ao mesmo tempo: os primeiros para a universidade, os segundos para o mercado de trabalho. Além disso, porque os alunos com mais dificuldades nunca abandonariam o seu escalão etário, os problemas disciplinares derivados da mistura, na mesma turma, de garotos de 12 anos com matulões de 15 acabariam. Sem esquecer que é mais enriquecedor para qualquer pessoa ouvir, durante nove anos, coisas diferentes do que ouvir sempre a mesma coisa.
(...)
A escolaridade obrigatória impõe, apenas, um novo conceito de turma. Todas as turmas deveriam ser constituídas, em princípio, por sessenta ou setenta alunos, devendo todas as disciplinas ter três níveis: iniciação, médio e alto. Ou seja, durante a escolaridade obrigatória, os alunos passariam sempre de ano, podendo, no entanto, não passar de nível. Nada obstaria, assim, que um aluno do 9.º ano, por exemplo, frequentasse o nível III a Matemática, o nível II a Português e o nível I a Inglês.
Agora o que não se compreende é que se obrigue um aluno que reprovou a três ou quatro disciplinas a repetir o mesmo programa às outras dez disciplinas em que teve aproveitamento, para mais quando o destino de muitos deles é ir para servente de pedreiro, pastor ou varredor. Ou será que os alunos ficam melhores varredores se andarem nove anos na 1.ª classe?"
Ver Artigo Completo (Educare)
Parece que a ministra da Educação começou agora a perceber que as reprovações são o principal cancro do nosso sistema de ensino. Mais vale tarde do que nunca. Fraústo da Silva já tinha percebido isso há mais de vinte anos e os finlandeses há mais de quarenta. É uma daquelas evidências que só mesmo os cegos intelectuais não conseguem ver. Sendo certo que, a fazer fé no que para aí se ouve e escreve, só talvez daqui a trinta anos a maioria dos professores e comentadores vai perceber isso. Por alguma coisa, somos um dos países mais atrasados da Europa.
(...)
E qual é a consequência desta estupidez defendida por professores e comentadores? Antigamente, o problema ficava resolvido com o abandono escolar. Mas hoje, os alunos com menor capacidade, porque estão proibidos de abandonar a escola, vão reprovando todos os anos e acumulando-se nas turmas, alterando completamente o seu equilíbrio e sem qualquer vantagem para o sistema, porque as turmas ficam piores, quer a nível de comportamento, quer de conhecimentos.
(...)
Quero com isto dizer que, se os alunos não reprovassem no ensino obrigatório, a qualidade de ensino melhoraria? Obviamente, porque a percentagem de bons e maus alunos por turma mantinha-se constante, uma vez que ambos sairiam do sistema ao mesmo tempo: os primeiros para a universidade, os segundos para o mercado de trabalho. Além disso, porque os alunos com mais dificuldades nunca abandonariam o seu escalão etário, os problemas disciplinares derivados da mistura, na mesma turma, de garotos de 12 anos com matulões de 15 acabariam. Sem esquecer que é mais enriquecedor para qualquer pessoa ouvir, durante nove anos, coisas diferentes do que ouvir sempre a mesma coisa.
(...)
A escolaridade obrigatória impõe, apenas, um novo conceito de turma. Todas as turmas deveriam ser constituídas, em princípio, por sessenta ou setenta alunos, devendo todas as disciplinas ter três níveis: iniciação, médio e alto. Ou seja, durante a escolaridade obrigatória, os alunos passariam sempre de ano, podendo, no entanto, não passar de nível. Nada obstaria, assim, que um aluno do 9.º ano, por exemplo, frequentasse o nível III a Matemática, o nível II a Português e o nível I a Inglês.
Agora o que não se compreende é que se obrigue um aluno que reprovou a três ou quatro disciplinas a repetir o mesmo programa às outras dez disciplinas em que teve aproveitamento, para mais quando o destino de muitos deles é ir para servente de pedreiro, pastor ou varredor. Ou será que os alunos ficam melhores varredores se andarem nove anos na 1.ª classe?"
Ver Artigo Completo (Educare)
------------------------
Comentário: Concordo com muito do que está exposto neste artigo de opinião, (não com a forma como foi redigido), pois oferece uma perspectiva bastante interessante do nosso sistema de ensino. Na verdade, este artigo reflecte um pouco do meu pensamento. Mas não me parece que reflicta a estratégia da Ministra da Educação. O que a Ministra pretende é a abolição de "chumbos", mas sem alterar o mecanismo do sistema educacional. As reprovações até podem ser uma "estupidez", mas no actual esquema de ensino, serão provavelmente a única forma de garantir algumas competências aos alunos e estabelecer a diferenciação entre alunos empenhados e alunos desinteressados (com interesses divergentes dos escolares).
Se eliminarmos o "chumbo" estaremos de alguma forma a contribuir para que alguns alunos se sintam desmotivados e injustiçados... No entanto, o efeito é perverso, pois (de forma indirecta) estamos a aumentar as probabilidades de comportamentos desadequados. Como sempre, mais do mesmo, nunca foi (nem será) solução, mas a mudança não pode passar apenas pela força das "passagens administrativas" ou influenciadas pela avaliação dos docentes. Mesmo que para um "futuro varredor" não seja proveitoso andar "nove anos na 1.ª classe", será injusto obter os mesmos níveis 3, que aquele aluno esforçado, que faz sempre os seus trabalhos de casa e se empenha nas tarefas de sala de aula. Independentemente do número de disciplinas em consideração e de uma eventual transição de ano de escolaridade...
Mas vamos à segunda parte deste artigo de opinião: Num sistema de ensino, por níveis (à semelhança daquilo que sucede em França), a reprovação como a conhecemos deixa de fazer sentido, pois os alunos são integrados em "turmas", onde os alunos (em princípio) estarão no mesmo nível de conhecimentos e de aprendizagem. E aqui, obviamente o "chumbo" não fará sentido, pois os alunos são inseridos em níveis diferentes (dentro do mesmo ano de escolaridade) relativamente às diferentes disciplinas. Parece-me uma boa estrutura educacional, e com fortes probabilidades de reduzir alguns dos actuais problemas (não só ao nível da avaliação dos alunos, da aquisição de competências, mas também do desempenho dos professores).
Em vez de irmos procurar modelos distantes, que tal, fazermos o nosso próprio modelo... Seria interessante!
Se eliminarmos o "chumbo" estaremos de alguma forma a contribuir para que alguns alunos se sintam desmotivados e injustiçados... No entanto, o efeito é perverso, pois (de forma indirecta) estamos a aumentar as probabilidades de comportamentos desadequados. Como sempre, mais do mesmo, nunca foi (nem será) solução, mas a mudança não pode passar apenas pela força das "passagens administrativas" ou influenciadas pela avaliação dos docentes. Mesmo que para um "futuro varredor" não seja proveitoso andar "nove anos na 1.ª classe", será injusto obter os mesmos níveis 3, que aquele aluno esforçado, que faz sempre os seus trabalhos de casa e se empenha nas tarefas de sala de aula. Independentemente do número de disciplinas em consideração e de uma eventual transição de ano de escolaridade...
Mas vamos à segunda parte deste artigo de opinião: Num sistema de ensino, por níveis (à semelhança daquilo que sucede em França), a reprovação como a conhecemos deixa de fazer sentido, pois os alunos são integrados em "turmas", onde os alunos (em princípio) estarão no mesmo nível de conhecimentos e de aprendizagem. E aqui, obviamente o "chumbo" não fará sentido, pois os alunos são inseridos em níveis diferentes (dentro do mesmo ano de escolaridade) relativamente às diferentes disciplinas. Parece-me uma boa estrutura educacional, e com fortes probabilidades de reduzir alguns dos actuais problemas (não só ao nível da avaliação dos alunos, da aquisição de competências, mas também do desempenho dos professores).
Em vez de irmos procurar modelos distantes, que tal, fazermos o nosso próprio modelo... Seria interessante!
------------------------
Não percebo a admiração de tanta gente!
ResponderEliminarA reforma de Roberto Carneiro já previa a não existência de chumbos. Foi a Ferreira Leite quando assumiu a pasta de Ministra da Educação que reintroduziu o chumbo.
quando visitei o Canadá em 1980 já os alunos não chumbavam neste país!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminar