quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Está aberta a "caça" ao professor


Comentário: São diversas as notícias que têm dado conta de agressões a professores... Muitas, mas não as suficientes para que tenham metade do destaque do caso da agressão de um professor a um aluno (aqui). 

Começo por dizer que é um tema que tenho discutido com os meus alunos, e que um deles conseguiu resumir muito bem: se um aluno, encarregado de educação ou familiar bate num professor pouco ou nada acontece (é normal), no entanto, "quando um professor bate num aluno, vai preso". Este é o clima de impunidade que passa para os nossos alunos... Os alunos podem bater no professor! É isto que eles percebem, e que começa a ser considerado natural. Tão natural, como as notícias frequentes de agressões a professores.

Constato também a fraca solidariedade da nossa classe, que estipula logo juízos de valor: se foi agredido é porque não se soube impor, não soube disciplinar a turma, é velho, é fraco ou não tem "fibra". Se agrediu, é porque lhe faltou formação pedagógica, porque tem problemas familiares e descarregou nos alunos, devendo ser logo afastado da docência. Eu não sou tão rápido a ajuizar, porque já passei por diversas escolas, e sei que a minha realidade atual não é ou pode não ser a realidade dos outros.

Digo isto em tom de brincadeira aos meus alunos, mas no fundo não estará muito longe daquilo que realmente penso: dificilmente irei agredir um aluno, mas perante uma situação de ameaça iminente, também não irei ficar à espera de levar uns tabefes. Não por ser professor, mas sim por ser um ser humano com direitos e deveres. E nenhum dos meus deveres consiste em ser agredido, só porque não fica bem a um professor reagir de forma física. E sei que existirão muitos que criticam esta minha posição, mas também acredito que sejam precisamente esses que nunca estiveram frente a frente com um aluno descontrolado, que os tenha insultado e encostado as mãos à cara em sinal inequívoco de agressividade. Esses são uns sortudos. E é mesmo isso... uma questão de sorte. Um dia que se vejam num aperto, irão mudar de perspetiva. Estou certo disso.

Para terminar, é inequívoco que estamos perante uma estratégia política bem sucedida. Está a dar os seus frutos, e não está na mão de quem nos governa inverter a situação. Está nas nossas mãos! E se se fazemos greves e manifestações por questões salariais e de tempo de serviço, porque não fazê-las em defesa de um bom ambiente escolar, em defesa de uma efetiva reposição da autoridade dos professores na escola?! Fica a dica...

3 comentários:

  1. Exatamente!"E nenhum dos meus deveres consiste em ser agredido..."

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Ou insultado. Ou desautorizado sem consequências para o prevaricador.É tudo isto que está em questão na questão da indisciplina. Todavia, o fenômeno é relativizado, ou melhor, normalizado, como nota bem Ricardo Montes. A disciplina que devia ser garantida, tem que ser conquistada, dizem ou insinuam. Multiplicam-se acçôes de formação sobre gestão de conflitos (em tempos de BCE, ter formação nisso contava como um dos critérios manhosos). Implementa-se o PAFC para que as aulas sejam (supostamente) mais ao gosto dos alunos e o insucesso desapareça. Mantém-se a escolaridade obrigatória de 18 anos. A mensagem é sempre a mesma: o docente é o único responsável por tudo o que possa acontecer na sala de aula, que escolheu a sua profissão, e se há problemas que se amanhecer ou que se vá embora.

      Eliminar
  2. Art 21º da Constituição: "Direito à Resistência". E mesmo que não estivesse consagrado na Constituição! Temos o direito e o dever de defender a nossa integridade física e não só. Ninguém irá fazê-lo naquele momento referido pelo Ricardo. No meu caso, nãio terei quaisquer dúvidas, pensarei nas palavras de Bruce Lee: quando tiver de enfrentar alguém, partirei contudo, sem recear nada. Nenhum EE ou pingente me enfrntará sem levar forte e feio.

    ResponderEliminar