quinta-feira, 13 de junho de 2019

Claro que não recomendam...


Comentário: Recomendo a audição desta reportagem da Antena 1... São pouco mais de 27 minutos de pura agonia, não apenas por aquilo que se ouve, mas acima de tudo pela identificação pessoal com muito do que é relatado. É um retrato fiel da nossa classe profissional, onde poucos ainda conseguem resistir à exaustão emocional, à desvinculação afetiva aos nossos alunos, ao conflito e indisciplina (quase) permanente.

Infelizmente os nossos governantes não têm qualquer interesse em gerir de uma forma positiva esta situação, capitalizando-a de forma perniciosa e depreciativa, para capitalizar o estigma contra os professores, somando votos de quem considera que somos uma classe privilegiada.

2 comentários:

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  2. A minha última participação disciplinar:

    REGISTO DE OCORRÊNCIA
    RELATO:
    Por volta das 18:00-18:10, os alunos nº 4 F e nº 21 T, envolvem-se numa (nem sei que lhe chamar) escaramuça, zaragata, … da qual saem ilesos, à exceção da “pobre” cadeira, que impulsionada pela mesa -selvaticamente empurrada pelo irritadíssimo F- cai no seu lado esquerdo e fica sem um pedaço de madeira do seu apoio lombar.
    Como é que se chega a este ponto?
    Teria que voltar a 1992 e à reforma educativa iniciada pelo então Ministro de Educação Roberto Carneiro. Mas não tenho tempo e nem toda a gente que lê estas ocorrências tem a experiência de passar doze tempos lectivos semanais com grupos de alunos que não respeitam a “propriedade” escolar, as pessoas nela envolvida, nem tão pouco o colega do lado. O tal que, no minuto X é um amigalhaço para a vida, e no minuto Y seguinte, um alvo a abater, porquanto como ele está frustrado por não ter atingido os 18 aninhos. O número mágico para se ver livre do aborrecimento de ter que pensar e, de vez em quando, ter que transcrever o pensamento para a ponta de uma esferográfica, que de interessante só tem o facto de poder, sem a carga, servir de propulsora por via oral de pequenos papelitos, arduamente preparados a partir de cadernos inócuos, perdidos em mochilas cheias de objectos que fariam corar de espanto qualquer ASAE do sistema educativo.
    Os factos:
    Os alunos estavam a brincar: um risca a ficha do outro, o outro devolve riscando o caderno; um goza com o outro, o outro mostra o caderno riscado ao professor, o professor avisa os dois que devem acabar com a brincadeira, a aula possível continua e de repente:
    F enfurece-se, atira a mesa para a frente, dá uma espécie de murro ao T e grita: “tu não me conheces!!!, olha que eu….”. E nisto, estou eu a pensar: “só me faltava mais isto hoje”, e tento resfriar os ânimos, especialmente do F, que parecia possuído pela raiva acumulada de todos os alunos CEF.
    Agora sentados, continuam a verbalizar ofensas um ao outro, sem exteriorizar demasiado. Eu, para eles invisível, até ao momento em que decido, a cinco minutos do toque, mandar sair um a um, tentando distanciar temporalmente a saída dos dois galifões. Refira-se que para os restantes alunos, foi o momento alto da aula, silenciosos como nunca tinham estado antes, a rezar para que a coisa descambasse num cenário de guerra civil.
    Eu, na sala agora vazia, fiquei a olhar para a pobre cadeira tão destroçada quanto eu. Terminei os trâmites informáticos, saí, e fiz o ponto da situação com a auxiliar de acção educativa, antes de entregar um pequeno resumo a um membro da direção no átrio principal da escola.
    Veredito:
    Perante agressividade de adultos um pouco por todo o lado; o descalabro ético; esta ocorrência é apenas lógica. Pagar a cadeira?! Faria sentido numa sociedade em que a Parque Escolar, gerida por adultos, não tivesse desviado milhões.
    Proponho acelerar a máquina do tempo para estes dois rapazes, para que possam tirar a carta e, não obrigados a entrar, possam exibir, a passar pela escola, os seus “tunings” de duas ou mais bufadeiras cromadas, e rir de satisfação quando o pobre professor vai a pé para a estação de comboios.

    O professor,
    VB

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