Analisando as estatísticas da educação que têm vindo
a público nos últimos dias, mais especificamente a referente aos professores no sistema de ensino público percebe-se que o número de professores
contratados encontra-se acima dos 30 mil desde o ano lectivo 2008/2009. Este número eleva-se para os 36 mil nos
dois anos lectivos subsequentes.
As conclusões que podemos chegar
são que os professores contratados
asseguram necessidades permanentes do
sistema educativo, e pelos vistos há já alguns anos seguidos. É por demais evidente
que os 36 mil contratados não asseguram necessidades temporárias, pois é um número
muito elevado para serem apenas necessidades deste tipo, e só por arte retórica
oca é que se poderá querer afirmar o contrário.
Estes números dizem-nos também
que a forma como são contabilizadas as necessidades permanentes não será provavelmente
o melhor método de perceber quais as necessidades efectivamente reais de
professores no sistema educativo. A extinção dos Quadros de Zona contribuiu para
esta situação e fez com que abertura de quadros diminuísse, apesar de que as vagas de QZP permitiam uma contabilização de lugares
de quadro que se aproximava com mais rigor das necessidades permanentes reais, possibilitando
também uma maior flexibilização na colocação dos docentes nas escolas.
Outra questão fundamental floresce (que parece-me tem escapado à
discussão por desinformação) quando comparamos o número de professores com o
número de alunos matriculados. Se atendemos aos dados retirados do site pordata
conseguimos descortinar que houve um aumento do número de alunos matriculados
no sistema público de educação mas que este não foi acompanhado pelo devido aumento
de número de professores. Se comparamos, por exemplo, o ano lectivo de
2008/2009 com 2010/2011, os factos são inequívocos. Em 2008/2009 temos 142 834
professores para 1 762 540 alunos. No ano lectivo 2010/2011 contam-se 139 837 professores
para 1 881 505 alunos matriculados. Verifica-se
assim o aumento nada desprezível de mais 120 mil alunos e a diminuição do
número de docentes.
A conclusão óbvia que daqui
retirámos é um claro desinvestimento na educação. Coloca-se em causa a
qualidade do sistema educativo português, que com as taxas de abandono escolar
conhecidas permite-se a ter cada vez mais
alunos nas escolas com menos professores, somando-se ainda a diminuição do
número de quadros e o aumento da precarização da profissão através do constante
recurso a contratação de professores.
As necessidades permanentes de docentes devem ser vistas por aqui.
Elas são por demais evidentes e não serão as medidas impostas de corte nos
horários dos professores que as vão camuflar. Mesmo que haja uma diminuição previsível
mas artificial de professores
contratados para o próximo ano lectivo, as necessidades de uma escola pública
com a mínima qualidade e capacidade de resposta às exigências de uma educação
para todos criam a urgência
de repor um número mais equilibrado de professores nos quadros de escola.
A ilegalidade de recorrer à
contratação sucessiva, por inúmeros anos consecutivos terá de dar lugar à
integração nos quadros destes professores. Esta exigência de reposição da
legalidade por parte dos professores contratados (com recurso a acções judiciais
se assim for necessário) ganha mais força com a diminuição ao longo dos últimos anos da proporção entre alunos e o
número de professores em exercício e consequentemente
com a diminuição das soluções que a escola pública carece.