Eu, antes, admirava-os... Agora, enervam-me e invejo-os a dobrar... Todos aqueles que conseguem dar um ar intelectual numa esplanada ou numa praia, rodeados de livros, tablets, computadores, de caneta na mão ou na boca com um ar de quem está prestes a descobrir uma verdade absoluta. De vez em quando, levam a mão à cabeça para a coçar e estimular os neurónios e isto tudo a apanhar um belo de um bronze uniforme que eu só consigo se me estatelar durante seis horas sem me mexer para não correr o risco de franzir nenhuma parte do meu corpo e não deixar ali nenhuma espécie de estria artificial. É que as verdadeiras já me chegam e sobram...
Não consigo... Desisto! Não é pra mim... Há duas horas que estou a tentar concentrar-me e os meus gritos não tem nada a ver com "Eureka", mas sim com uma expressão/interjeição pouco correta que eu não vou repetir agora...
Já me passaram por aqui seis abelhas. Tentei o truque do ignorar, mas não resulta. Tentei o truque do soprar e quase que engolia uma. Tentei o truque do gesticular e fiquei com a sensação de que lá foram embora, mas vão voltar com a colmeia toda só para me mostrarem que são elas que mandam aqui...
Já fiz mais exercício do que alguma vez fiz ao longo do ano a correr atrás de folhas que me fugiram com o vento. Já sujei essas folhas com o sumo que eu pousei em cima, desesperada...
Já me entraram não sei quantos ciscos nos olhos. Já atei o cabelo, mas, como nunca tive uma boa relação com ele, tenho sempre dois ou três fios a fazerem-me comichão no nariz, a fugirem-me para os olhos ou a ficarem presos nas hastes dos óculos...
E tenho aqui um bicho que eu nunca vi em toda a minha vida a provocar-me: redondinho, fofinho e calminho. E eu, em vez de pensar no meu trabalhinho, estou aqui na dúvida entre deixá-lo andar à vontade ou espetar-lhe com o livro em cima. Custa-me esborrachá-lo sem saber se ele quer mesmo ser meu amigo ou se é uma estratégia para me picar quando conseguir apanhar-me desprevenida...
Vá, digam-me a verdade verdadinha? Quando vocês dão esse ar de quem está completamente abstraído do mundo, absolutamente concentrado na descoberta de uma fórmula qualquer que vai salvar a humanidade, é só mesmo pró estilo, não é? Não conseguem mesmo trabalhar, pois não?
Pensei que era só eu!
ResponderEliminarEheheh, demais, tantas vezes me sinto assim!!
EliminarAo invés de estar numa praia, que seria maravilhoso, mas não há nenhuma próxima, estou numa esplanada fantástica. Toda a gente está com um ar relaxado, menos eu, a pensar nas tarefas que ainda não acabei...
ResponderEliminarEu adoro ver alguns a corrigir provas junto à praia. Só penso, eu de certeza que vou reapreciar essa prova :P
ResponderEliminarQuando fazia viagens muito longas ao fim de semana, trabalhava no comboio. Fora isso não dá. Numa esplanada, incomoda a luz, o calor, o vento, o pó, os bichos?! ... essa coisa do intelectual só se for a ler um livro, com a luz, a temperatura e a paciência certa.
ResponderEliminarQuando fazia viagens muito longas ao fim de semana, trabalhava no comboio. Fora isso não dá. Numa esplanada, incomoda a luz, o calor, o vento, o pó, os bichos?! ... essa coisa do intelectual só se for a ler um livro, com a luz, a temperatura e a paciência certa.
ResponderEliminarOlhem, tb pensava que era só eu!
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