1) Contrariamente àquilo que eu pensava, o “break” de “Spring break” não é de “pausa” ou “descanso”. É mesmo de “quebrar”, “destruir”, “infringir”… Às tantas, para muitos, todas estas palavras são sinónimas, mas eu só agora é que consegui fazer essa associação…
2) Quanto ao “Spring”, também não é de “primavera”. É de “mola”, como as dos colchões… Funciona um pouco como metonímia gira e leve para representar tudo o que pode ser destruído numa viagem de finalistas… “Hotel break” seria demasiado óbvio e o “Spring” tem aquele lado poético, com florzinhas e borboletas e cores e tudo o que pode ser qualificado de fofinho…
3) Os hotéis de 4 estrelas espanhóis não valem nada: atendimento, alimentação, higiene… tudo péssimo… Há que dizê-lo: os Espanhóis são feios, porcos e maus.
4) Aliás, não são só feios, porcos e maus. Há também ali muita falta de respeito e preguiça. Sim, preguiça! Dormem a sesta a meio da tarde, mas não conseguem perceber que finalista que se preze dorme, durante o seu “Spring break”, o dia todo e só sai do quarto por volta das seis ou sete da tarde. Cadê a limpeza dos quartos a partir dessa hora? Mudanças de toalhas de banho? Népia! Vergonhoso!
5) Também não têm sentido de humor. Francamente, vamos lá falar das coisas como elas são: quem nunca colocou uma televisão numa banheira ou um sofá num elevador para rir um bom bocado? Quem nunca fez uma batalha de farinha nos corredores de um hotel? Pelos vistos, só os Espanhóis…
6) Os únicos fixes são os barmen que distribuem as bebidas alcoolizadas a torto e a direito… Não são os miúdos com pulseira vermelha (acesso a álcool) que pedem o triplo de bebidas para os que têm pulseira dourada (sem acesso ao álcool), são os barmen que são fixes… Perdão, não são fixes. Agora que deu para o torto, temos que admiti-lo: são irresponsáveis!
7) A boa educação e o respeito podem ser comprados. Já suspeitava um bocadinho, confesso, mas nunca tinha ouvido o nome certo para a coisa. Chama-se “caução” e tem o valor de 50 euros. Não quero entrar em mais polémica, mas está muito baratinha, quanto a mim. Não admira que o hotel tenha ficado no estado em que ficou (É que para além de feios, porcos, maus e preguiçosos, são burros, pá!)
8) Podem não acreditar, mas esta epifanou-me mesmo: afinal, vejam bem, os nossos adolescentes adoram sopa… tanto que, se esta falhar nalguma refeição, começam a pintar paredes e destruir vidros de extintores. Têm que ter aquela dose diária ou ficam doidos! Tanto dinheiro que o hotel podia ter poupado aqui, se tivesse sido mais cauteloso! Eu, que sou Portuguesa e, por isso, mais inteligente (e mais gira, e mais limpa, e mais boa onda), a partir do segundo dia, já não me tinham destruído mais nada. Baldes de sopa para todos!
9) Dar cabo de colchões, candeeiros, extintores, televisões, sofás e paredes não são atos de destruição e vandalismo. São pequenos danos, situações normais. Sabia que era assim em minha casa (embora tenha a noção de que são pequenos danos estúpidos e situações normais estúpidas), mas não fazia ideia de que isto se estendia a hotéis.
10) Para que haja vandalismo, temos que imaginar um universo inteiro de 1000 alunos, por exemplo, envolvidos todos ao mesmo tempo em todos os acontecimentos. Se não forem todos a destruir tudo ao mesmo tempo, não podemos falar em vandalismo. Ora, aí está, são só pequenos danos, muitos pequenos danos, mas pequenos danos, situações normais, estúpidas, mas normais. Para não falar na injustiça que estamos a cometer para com aqueles que, por exemplo, faltaram naquele episódio da TV na banheira (não é preciso ser um Einstein para perceber que 1000 alunos não cabem num quarto e que uma televisão não pode ser segurada por 2000 mãos…).
11) Nesse tipo de acontecimentos com jovens de 17 a 20 anos, o barulho é habitual, beber um pouco mais também e, claro, abusar de estupefacientes é igualmente normal… Eu até que desconfiava, mas nunca pensei que alguém o dissesse assim com um sorriso e um ar tão ternurento e quase admirativo/reverente… Faz lembrar aquela canção que passa muito na rádio agora “I’m only human, after all, don’t put the blame on me!”… Eu nunca tinha pensado nisso, mas é uma desculpa fixe para tudo! Oh pá, sou jovem (no meu caso, vou ficar pelo “humana”), é normal que eu faça asneiras! E pronto, acabaram-se os problemas de consciência! Vamos é viver a vida! Esta foi, juro, a minha epifania preferida!
12) Parece que para ter os miúdos sossegados e quietos, há que reservar (a palavra certa foi “comprar”, mas deve ter sido um lapso ligado àquela cena da caução) um hotel em Fátima… Não sei bem… Esta não me convence… Um Fátima Break em plena Semana Santa é capaz de ser demasiado trágico. Nem sei se aguentaríamos…
13) Não é a primeira vez, nem será a última, que os finalistas dão que falar com as suas viagens... Ah... Ok... Pronto, então...
14) Pelos vistos, existe a necessidade de se pensar bem o "sistema educativo em que assenta hoje a escola". Não percebi bem esta… Afinal, está tudo ok ou não? Estamos dentro da normalidade ou não? Em todo o caso, podemos tentar… Podemos pensar então, pensar bem… desde que cheguemos à conclusão de que está tudo bem… porque, cá entre nós, se chegarmos à conclusão de que há algo de errado, os que acham que está tudo bem vão cair-nos em cima e virar o jogo, como fizeram com o hotel… Eu cá não me apetece muito correr esse risco…
15) Os miúdos estão demasiado centrados nas classificações e no acesso ao ensino superior e muito pouco na sua formação enquanto cidadão… Esta também não me convence. Dizer que todos os alunos estão demasiado centrados nas classificações e no acesso ao ensino superior é cair no mesmo exagero do que dizer que os 1000 alunos de Torremolinos são todos uns vândalos… A percentagem deve ser a mesma em ambos os casos… Eu sei: trabalho com eles! Há de tudo! Até posso dizer que há alunos que não estão centrados em cousíssima nenhuma: nem nas notas, nem nos valores… Mas também há os outros, vá…
16) Impõe-se uma discussão sobre valores e limites que os alunos devem ter quando não estão nas aulas. E essa discussão deve ser feita onde? Nas aulas, pois então! Eu não me importo! Desde que não me atirem com cadeiras da janela da sala e não tenham alguém para justificar esse tipo de comportamento dizendo que foi porque não lhes dei sopa ou não lhes troquei as toalhas de banho ou levantei o tom de voz para os mandar calar quando estava a explicar a matéria…
17) Percebi, finalmente, o porquê de a minha geração ser chamada “rasca”… Fiquei triste com aquilo que aconteceu em Torremolinos. Fiquei triste com a imagem que os miúdos deixaram deles próprios e de todos nós. Mas fiquei ainda mais triste com aquilo que aconteceu por cá quando voltaram: a forma como os da MINHA geração tentaram justificar isso tudo envergonhou-me… Mas, pronto, mais uma vez, vou recorrer à teoria do “não generalizar”: não foram 1000 alunos vândalos, nem todos os finalistas estão focados nas notas e no acesso ao ensino superior, e nem todas as pessoas da minha idade têm os valores distorcidos… Espero eu…
18) Falando em gerações, acabo de ter uma última epifania: seria bom darmos mais ouvidos aos mais velhos, ocasionalmente. E não, não estou a ser politicamente correta. Obsoleta? Talvez: estou a falar de velhos! É natural que mudemos coisas, sim… Mas seria fixe se procurássemos guardar o que é bom de guardar (acho que também há uma canção assim…). É isso: já que os velhotes ainda cá estão, ouvi-los mais… Os ditos avós… Faz-me todo o sentido, até porque suspeito que, em muitos dos casos, foram eles que pagaram este “Spring Break” (É que a minha geração também é chamada "à rasca")… Mal eles sabiam… Mas, sim, mais uma vez, vou deixar-me de generalizações: se calhar, alguns até acharam piada…