Sou, de facto, uma péssima professora. Não há volta a dar. Por mais que eu tente, por mais que eu me esforce, apontam-me o dedo… uns por isto, outros por aquilo, os mesmos por isto e por aquilo…
Quando levo apontamentos para as minhas aulas, é porque sou uma insegura a nível científico e preciso de suporte.
Quando não levo nada, é porque sou uma inconsciente que não prepara as suas aulas.
Quando falo em Inglês, é porque não me preocupo com os que têm mais dificuldades e estes vão acabar por desistir e deixar de tentar acompanhar a aula.
Quando falo em Português, não estou a puxar pelos alunos e estes não estão a aprender nada.
Quando me irrito, é porque passei mal a noite ou me chateei com o meu namorado.
Quando não me irrito, é porque não quero saber: se eles querem aprender, aprendem, se não querem, o problema é deles… paciência!
Quando grito, é porque não era preciso gritar: eles não são surdos.
Quando não grito, eles são, de facto, surdos, e não me ouvem.
Quando parto para uma participação disciplinar, é porque é injusto: não era só este ou só aquele que estava a perturbar a aula.
Quando não há participação disciplinar, é porque não tenho pulso e eles fazem o que querem.
Quando trabalho com os meus colegas de grupo, é porque não sei fazer nada sozinha.
Quando não trabalho com os meus colegas, é porque sou uma individualista e tenho a mania.
Quando utilizo o manual, é porque as aulas são uma seca.
Quando utilizo outros recursos, é porque o manual foi caro e não está a ser utilizado.
Quando passo os intervalos com os meus colegas na galhofa, é porque o eu quero é brincadeira e não sei aproveitar bem o meu tempo.
Quando passo os intervalos a correr de um lado para o outro para tirar cópias, requisitar algo da biblioteca, redigir uma participação ou lançar os sumários, é porque não sei viver ou porque só vivo para a escola e devo ter seis gatos em casa à minha espera.
Quando estou com gripe, é porque devia faltar: não é nada saudável estar fechada numa sala e espirrar para cima dos alunos.
Quando falto, é porque me baldo.
Quando brinco, estou a dar confiança a mais.
Quando não brinco, não sei criar contextos saudáveis para a aprendizagem.
Quando os meus testes são longos, é porque quero tramá-los: é muita coisa para assimilar para um só teste.
Quando os testes são curtos, é porque quero tramá-los: eles até sabiam o resto, mas o resto não saiu no teste.
É isso: sou péssima professora… Vou mas é beber um copo e esquecer… É isso que eles fazem nos filmes americanos: vão beber um copo… Ou dois… Aliás, nos filmes, os melhores professores bebem muito… Vou tentar só mais esta, a ver se acerto…