Aluno de CEF, do alto dos seus 17 anos e do seu metro e oitenta: Ó professora, não me sente mais ao lado dela! Não consigo fazer nada!
Eu: É das miúdas mais atinadinhas da turma e não consegues fazer nada? Ela até te pode ajudar!
Aluno: Não, professora! Não consigo!
Eu: Não gostas dela?
Aluno: Gosto… Gosto, sim…
Eu: Então?
Aluno: Gosto… Ó professora, fico todo atrapalhado! Não consigo pensar! Fico todo a tremer! Não consigo escrever! Até os meus cabelos ficam a tremer! E fico com a barriga toda a doer! Respiro muito! Ela ainda pensa que eu sou um anormal! Professora, por favor, não me ponha mais ao lado dela!
(SILÊNCIO)
Aluno: Professora?
Eu: Está bem… No próximo período, ficas aqui à frente…
Aluno: Obrigado, professora… Desculpe lá…
E não me saía da sala. Talvez quisesse ouvir palavras de incentivo. Ficou a olhar pra mim, como que à espera de algo mais… Podia ter brincado, mas não estava praí virada… Ainda estive a pensar um pouco, enquanto ele me fitava com aqueles olhos grandes… E saiu-me: “Apagas-me o quadro, se faz favor?”
Fez isso lentamente. E eu, lentamente, também, arrumei as minhas coisas: "O quadro já está mais do que limpo. Obrigada. Podes ir."… Pousou o apagador... Encostou-se ao quadro…
Eu: Diz…
Ele: “Isto” passa com a idade, não passa, professora?
Eu (Após um longo silêncio que se seguiu de um suspiro e de um sorriso): Não, meu anjo, tenho muita pena, mas "isto" não passa com a idade…
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